Páscoa anos 1950

13 abr • NotasNenhum comentário em Páscoa anos 1950

Do Dia de Ramos até a Páscoa, 40 dias depois do Carnaval, as igrejas e seus ritos mudavam. Altares e santos eram cobertos com tecido roxo. Durante as missas, as campainhas dos coroinhas eram substituídas por matracas de madeira, que faziam clac clac quando sacudidas.

Era tempo de jejum e abstinência de carne na Sexta Feira Santa. Peixe podia. O costume perdeu a religiosidade, mas a cultura de comer peixe na Semana Santa se mantém forte.

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Há anos encasqueto com isso. O Brasil tem 8 mil km de costa, e os urbanos quase só comem peixe nesta época. Resulta que é caro comer peixe bom. Na maioria das vezes, vem pescado navegante de águas poluídas de outros países, especialmente asiáticos.

Mas os tempos mudam. Se no meu tempo de guri as mães obrigavam os filhos a pular uma refeição e não comer carne, hoje esses dois costumes vigem na marra. Nem sempre pobre come mais de uma refeição por dia e até a classe média acha a carne cara.

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Talvez guisadinho ou “filé” de garrão. Até recentemente, patinho nem pensar. Maminha só para dentes fortes. File mignon só se ganhar na Mega. A segunda classe rói unhas. Que comam brioches, não é mesmo, dona Maria Antonieta?

Na sexta da Paixão, rádios só tocavam música erudita. Era proibido rir e contar anedotas. Pecado mortal. Pena: o inferno. Hoje, não se vai mais para o Inferno – o diabo desligou a fornalha, petróleo muito caro – mas não há muito motivo para rir. Voltamos aos velhos tempos.

O Brasil tem castas. Os que têm sorte de alguém dar casa e comida, o funcionalismo bem pago até na aposentadoria, e os seres rastejantes, a tchurma do porão, que morre trabalhando recebendo merreca e se aposenta ganhando meia merreca. E que lamba os dedos. Os ricos não moram no mesmo edifício.

Para não dizer que só crítico, aqui vai uma sugestão: ingerir proteína animal: sardinhas em lata, baratíssima. Com massa, com pão ou pura. Problema: depois de comer esse pescado por uma semana, prefere-se passar fome.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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