Pandulho

26 jul • Sem categoriaNenhum comentário em Pandulho

A história de hoje é contada pelo impagável Paulo Motta, ele e seus textos maravilhosos.

Minha avó materna, a Cantídia, vivia me dizendo: “Já encheste o pandulho, guri saco sem fundo?”.

Hoje, com 62 anos e sempre um saco sem fundo, resolvi procurar o significado da palavra e descobri que pandulho é tipo saco de areia que serve de âncora ou lastro para barcos, bem parecido comigo.

Lembrei de uma namoradinha que tive na Zero Hora, a Ibraína, morena, cabelos negros, nariz aquilino e lindos olhos vermelhos que nem coelha – como uma coelha, você me mantééém, como diria a Rosana -, uma deusa oriental, meio acidental, considerando que tinha a língua pguesa, sabem?

Meus queridos colegas bandalhos apelidaram-na de Bagulho. Não que ela fosse um; não, não, mas odiava o bagulho das máquinas de escgueveg, aquela bagulheiga, sabem como é.

Ela trabalhava na Redação, no terceiro andar, e eu no porão, nas entranhas do jornal, pra não dizer nos intestinos.

Numa noite daqueles anos 80, minha coelha e eu enchíamos a caveira no Porta Larga – pra quem não sabe, bar ao lado da ZH – e ela confidenciou que não conseguia criar, os textos estavam áridos e nada acontecia.

Nessa época estava acontecendo a informatização na Redação. A máquina de escrever estava a um passo do museu.

Me caiu a ficha – naquele tempo era orelhão movido a fichas, lembram? – e matei a charada:

– Gata, será que tu não sente falta do barulho das máquinas de escrever? Aquele tac-tac-tac-plin, tec-tac-tac?

– Puxa, vegdade! O bagulho das máquinas que eu odeio, é isso, séguio!

Era sério, mesmo. Entrar numa redação de jornal, hoje, parece que estás num bloco cirúrgico: silêncio, ninguém fala. Sussurros e suspiros, nada mais.

Saudades daquela velha esculhambação e da Ibraína, é clago!

Carinhoso beijo no baço de vocês, camagadinhas!

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Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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