Palavras sem dono

28 mar • NotasNenhum comentário em Palavras sem dono

As palavras só me pertencem até eu proferi-las. Uma frase boa citada pelo político mineiro Aureliano Chaves, que, de prefeito de Três Pontas, chegou a vice-presidente da República, em 1979, no governo do general João Batista Figueiredo.

Embora fosse no partido do governo, a Arena, depois PDS, Aureliano Chaves de Mendonça foi progressivamente se identificando com as correntes políticas que ganhavam força no país e pediam o fim do regime militar. Inclusive votou em Tancredo Neves para a Presidência da República. Era um homem correto, dadas as circunstâncias.

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AC, era um tipo sanguíneo que não levava desaforos para casa. O pavio curto perfeito.

No início dos anos 1980, correram rumores de uma briga feia dele com um genro ou ex-genro, se não me falha a memória. Mas nunca se soube realmente o quanto disso era verdade parcial ou total.

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Seja como for, algum tempo depois, Aureliano Chaves (1929-2003), que até praticava halterofilismo, falou em uma rede nacional de televisão. Não lembro a troco de quê, mas está viva na minha memória uma frase que ele proferiu, acho até que para dar alguma satisfação à boataria reinante.

Após reconhecer que era dado a ímpetos, disse essa pérola.

– Quando eu falo não penso, e quando eu penso não falo. 

Imaginem um político dizer isso hoje em dia em alguma campanha. Os adversários poderiam usar essa frase para defini-lo como alguém parecido com o ex-presidente americano Gerald Ford, de quem se dizia que ele não conseguia caminhar e mascar chicletes ao mesmo tempo.

Mas duvido que alguém dissesse isso na lata de Aureliano, ou mesmo disse em campanha. Não conseguia nem caminhar nem mascar chiclete por um bom tempo.

Licença para transar

O avanço do politicamente correto está de tal forma enraizado que não demora até mesmo o famoso “quer casar comigo?” Vai ter regras mais rígidas, de acordo com os novos tempos.

O candidato vai ter que entrar com uma PEC (Proposta de Emenda Constitucional) para oficializar o pedido de união. Vocês lembram que, há coisa de 25 anos, algumas universidades americanas estabeleceram um código de cantada, digamos assim.

Consistia em avisar antecipadamente a parceira, eventualmente o parceiro, dos gestos que se faria em seguida. Tipo “Eu posso abrir o botão de cima da sua blusa?”. Com o OK da moça, o cantor politicamente correto partia para o segundo botão e assim por diante, até o estágio carnal.

Presumo que os mais afoitos mal e mal esperavam o OK para abrir o primeiro botão e já partiam para o segundo. Talvez o sistema de dupla embreagem usado nos câmbios automáticos modernos tenha origem nessa coisa de abrir botão – mal começava a abrir o primeiro e o segundo já estava engrenado. 

Lembrando sempre que a última marcha geralmente é overdrive, uma marcha longa, sem freio motor. Compreensível. Nesse estágio é pé no fundo, se me faço entender.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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