• O naufrágio do restaurante (final)

    Publicado por: • 13 mar • Publicado em: A Vida como ela foi

    Restaurado, surgiu um problema oposto no Restaurante Dona Maria: passou a enfrentar alagamentos a cada chuva mais forte, coisa de uns 20 centímetros de água, um horror. Quando isso acontecia, o fleumático Ernesto não saía da mesa, só pedia um engradado vazio de cerveja e nele botava os pés. E ali ficava como se um Buda austríaco fosse.

    Certa noite, veio um toró dos diabos. Minutos depois, a casa quase boiava, a maioria dos clientes se mandou. E seu Ernesto e eu sentados sem dar pelota para o dilúvio, comendo salsicha bock e queijo Port Salut.

    Foi então que ouvimos um barulho esquisito vindo do fundo, um chap-chap-chap de alguém caminhando com água pelos tornozelos, quase aquaplanando. Era o médico. Veio direto em cima do Moser e então falou com carregado sotaque nordestino.

    – Então, seu Ernesto, quer dizer que depois de pegar fogo, a casa agora vai a pique?

    Dito isso voltou para a sua mesa e para seu harém, fazendo chap-chap-chap de novo. Silêncio. Sempre que conversava, o austríaco Moser tinha o cacoete de pegar um palito e bater nele com o paliteiro, à guisa de martelo.  Pois depois de ouvir essa, o palito só não ficou cravado na mesa de madeira porque quebrou antes.

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  • Overdose

    Publicado por: • 13 mar • Publicado em: Caso do Dia, Notas

    Ontem aconteceu uma interessante. Estava subindo na esteira na academia que frequento quando um grupo se acercou. Sabendo que sou jornalista, um deles perguntou o que eu estava achando do coronavírus. Trago a resposta decorada em situações como essa – e como as há!

    – Olhem, eu acho de manhã cedo, acho ao meio-dia, acho de tarde, acho de noite e até de madrugada, de maneiras que me permitam ficar duas horas sem achar nada.

    AQUELE QUE SE CHAMAVA…

    O humorista Jair Kobe, que faz o personagem Guri de Uruguaiana com grande sucesso, recebeu uma homenagem proposta pelo deputado Luís Augusto Lara. No agradecimento ele falou em tom de brincadeira que lutaria para tirar o Gaúcho do Ronaldinho Gaúcho. Vai ser como o cantor Prince, aquele que se chamava Prince…

    http://www.banrisul.com.br/bob/link/bobw02hn_conteudo_detalhe2.aspx?secao_id=279&secao_nivel_2=279&secao_nivel_1=441&utm_source=fernando_albrecht&utm_medium=blog&utm_campaign=antecipacao_ir2020&utm_content=centro_600x90px

    ATAQUE AO SANTO GRAAL

    Mas não dá para brigar com a gauchada fundamentalista. Em 1972, o pesquisador, folclorista e um dos fundadores dos CTGs Paixão Côrtes foi ator em um comercial de café solúvel, a Dínamo, do Rio de Janeiro. Na peça, ele todo pilchado bradava “chega de café de chaleira!”, mostrando então a lata de café do cliente. Foi um escândalo, imagina, mexer com o Santo Graal dos Pampas.

    A EXPULSÃO DO PAIXÃO

    Poucos meses depois, Paixão, que, em matéria de usos e costumes gaúchos sempre matou a cobra mostrando o pau, disse no programa A Grande Noite, da TV Difusora, que, além do café de chaleira, a bombacha não era coisa nossa, conforme pesquisa que ele fez no Museu do Louvre. Inclusive tirou fotos (slides) de tapetes da Idade Média em que aparece a corte dos sultões exibidas na tela – eu era um dos produtores do programa. Foi a gota d’água.

    FIM DE PAPO

    Uma comissão de tradicionalistas foi ao Palácio Piratini pedir ao governador Euclides Triches que expulsasse Paixão Côrtes do Rio Grande do Sul pela heresia que cometera ao mexer com símbolos sagrados do Rio Grande Amado, aquele cujos modelos serviram de façanhas a todo mundo. Felizmente, Triches não deu importância ao fato.

    A VEZ DOS PEQUENOS

    OK, o clima político interno, o pessimismo externo com o fechamento das porteiras americanas aos europeus, a fuga em massa do capital estrangeiro, o preço baixo do petróleo e suas consequências, tudo isso explica o desabamento da bolsa brasileira, mas por entre os destroços sempre nasce uma plantinha. As pessoas físicas foram as maiores compradoras no pregão de ontem.

    VÍRUS ACIONISTA

    Outro dia brinquei, mas sem brincar querendo, que se eu fosse o vírus compraria ações agora e em algum tempo que ainda não pode ser calculado seria um bilionário graças ao pânico humano. Pois é o caso desses coronavírus pessoa física. Vai que é tua, investidor.

    Mas não posso deixar de registrar que não dá mais para aguentar o noticiário e os jornais impressos – nem todos – sobre o avanço da doença. Parece que os redatores, comentaristas e colunistas estão com mais medo do que os infectados. Um deles, da cidade de Campo Bom, ficou bom em alguns dias e já está trabalhando.

    NA REZA

    Ensaiei uma charge, mas meu traço é pobre como rato de igreja. Uma turma de velhinhos e velhinhas rezado na igreja bem embaixo da estátua da Nossa Senhora da Boa Morte. Porém, o de sempre, os mais jovens estão sendo mais infectados que os velhotes? Não nos disseram isso no início, não é mesmo?

    PENSAMENTO DO DIAS

    Hoje, é mais fácil mexicano cruzar ilegalmente a fronteira dos gringos que europeu entrar legalmente nos Estados Unidos.

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  • Mesmo a melhor das cobras é uma cobra.

    • Provérbio árabe •

  • O Brasil que dá certo

    Publicado por: • 13 mar • Publicado em: O Brasil que funciona

    IARGS promove hoje curso de Direito Eleitoral, na sede do instituto, a partir das 17h. O curso será ministrado por um time composto por seis especialistas no tema que abordarão as principais alterações para o próximo pleito. Mais informações: 3224-5788.

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  • O naufrágio do restaurante (I de II)

    Publicado por: • 12 mar • Publicado em: A Vida como ela foi

    Todos o conheciam no falecido restaurante Dona Maria, mas só de vista. Todos sabiam que ele era médico, mas só de ouvir falar. Todos sabiam que ele já tinha passado dos 60 porque estava na cara. E todos sabiam que ele ia jantar sempre com duas garotas muito bonitas e bem jovens porque dava inveja. E todos sabiam que ele era nordestino porque os garçons identificaram o sotaque.

    Careca, acima do peso, aparência de quem foi e ainda era, quem sabe, um ninja dos lençóis. O trio sentava sempre na mesa do canto logo após a entrada. Era uma sábia logística, sem dúvida. Quando se entra num ambiente público não se olha para os cantos escondidos logo após a entrada. Elas só tinham olhos para o bom doutor. Seis mãos se entredevoravam com pudicícia acima e, sem ela, debaixo da mesa, segundo o garçom Adão, o Longevo.

    Nesta quadra da vida, as conquistas amorosas costumam sair da pessoa física para a jurídica – Nelson Rodrigues já dizia que o dinheiro compra até amor verdadeiro. O fauno vestia sempre um terno bem cortado, usava perfume caro e discreto, um reluzente Rolex no pulso.

    Na outra ponta do restaurante, perto do caixa, sentava sempre o dono, o austríaco Ernesto Moser. O restaurante foi severamente danificado por um incêndio por volta de 1973, mas tal como Fênix deu a volta por riba.

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