Os três cheiros do chope

30 out • A Vida como ela foiNenhum comentário em Os três cheiros do chope

Outubro é mês de Oktoberfest e esta é uma festa anual assim como os Kerbs nas regiões de colonização alemã. Kerb, para quem não sabe, é festa de três dias realizada anualmente quando se comemora o dia do santo protetor do município. É uma festa que reúne parentes vindos de longe. Nos meus tempos de guri, começava com farto almoço no domingo e o baile à noite nos salões das sociedades, mais a chamada segunda e terceira noites se ainda sobrasse fôlego. Não se fazia baile no sábado porque os padres temiam que os dançarinos não acordassem para a missa de domingo.

Vivi Kerbs nas casas de vários tios, e o que mais me marcou eram os Kerbs na casa do meu tio Arno Selbach, em Santa Teresinha, Bom Princípio, onde os Selbach arrancharam quando vieram da Alemanha fracionada de então no século 18. Era fantástico. Lembro como se fosse hoje, filmes inteiros estão na minha cabeça, ver primos e primas por quem eu era apaixonado. Especialmente uma delas.

Aí que entra o cheiro do chope. Um dia antes os distribuidores da Brahma eram acionados e o barril ou barris de chope chegavam na casa do anfitrião. Abria-se um buraco, colocava-se serragem misturada com gelo em barra, que vinha de Sebastião do Caí, até cobrir quase todo o barril. Ali ele ficava gelando a noite e a amanhã. Por volta das 11h, começava a Grande Cerimônia.

Alguém com experiência em fincar as bombas, operação que às vezes resultava em fiasco, fazia a abertura dos trabalhos. Tipo perfurar as plataformas da Petrobras no pré-sal. O cheiro de gelo e de serragem estão nas minhas papilas olfativas até hoje e mais ainda quando o petróleo, digo o chope, começava a jorrar. O Kerb de Santa Teresinha sempre era no verão, então fechava todas.

Quando eu era pequeno de verdade, meu pai me dava um copinho desses de aperitivo com a bebida, que eu revolvia na parte superior da boca, entre o lado interno dos lábios e a gengiva. Só para sentir o formigar da pressão. Anos depois, já na provecta idade de 18 ou mais anos, tínhamos o direito de beber um copo inteiro de chope.

Mas nunca antes dos adultos. Ficávamos no fim da fila. Mas o cheiro, meu Deus, como lembro dos três cheiros, do gelo, da serragem e do chope.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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