Os ovos do doutor
No livro “Alegrete – Cuentos y Versos“ o alegretense José Augusto Ferrari conta vários causos envolvendo figuras conhecidas ou gente simples do município. Um deles envolveu um amigo de Ferrari, o Deca.
Ele entrou num bolicho do Passo do Silvestre, tomou dois lisos de canha e passou a prosear com o dono. Papo vai, papo vem, o freguês ficou com fome. Em cima do balcão, havia um vidro grande cheio de ovos cozidos, coisa comum na campanha.
– O senhor sabia que acharam um pouco das coisas do doutor Ulysses?
Dito isso, o Deca abriu a tampa e comeu um ovo. Na época, 1992, havia uma comoção porque o helicóptero em que viajava o presidente nacional do PMDB, Ulysses Guimarães, havia desaparecido no litoral paulista, e o corpo nunca foi achado.
O bolicheiro ficou impressionado.
– E acharam também a aliança do doutor Ulysses!
Comeu outro ovo. O dono do estabelecimento, Eloís Jaques, ficou de boca aberta com a revelação.
– E sabe que acharam também a roupa do doutor Ulysses?
Comeu mais um. Alguns ovos depois, o Deca jogou o dinheiro dos lisos de canha em cima do balcão e foi saindo, não sem antes dar uma última informação.
– Mais ainda, já acharam os sapatos do doutor Ulysses! Foi então que Jaques se deu conta de que o outro não pagara toda a despesa.
– E os ovos, tchê?
– Não, ainda não acharam os ovos.
E o Deca se mandou a galope.
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