Os dois trabalhos manuais

13 maio • NotasNenhum comentário em Os dois trabalhos manuais

O ensino fundamental nos anos 1950, que chamávamos de primário, é público: tinha notável diferença com o de hoje. Além das disciplinas clássicas, havia a cadeira de trabalhos manuais, que se estendiam até o secundário, ou ginásio.

Meninos usavam serrinha para trabalhar e construir objetos em chapas finas de madeira; meninas gostavam de corte e costura ou crochê. Aos poucos, a indústria de brinquedos lançou plantas em cartolina para montar automóveis, casas , aviões e até porta-aviões.

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Cortava-se nos lugares certos seguindo as instruções e depois se usava cola para emendar tudo. Um estaleiro de brinquedo, por assim dizer.

Levei meses até acertar o meu. Mesmo assim, não consegui montar um pequeno hidroavião que fazia parte.

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Questão de ordem: quando adolescentes, ríamos ante a expressão trabalhos manuais. Era outro tipo de trabalho manual, se vocês me entendem.

A tortura da cozinha

Vendo o desastre que é o ensino de hoje, especialmente o fundamental, é forçoso reconhecer que, naquela época, aprendia-se melhor. E só não digo como hoje porque a ciência e a tecnologia ainda engatinhavam em termos de ensino prático.

O conhecimento se dava extraescolar, por livros nas bibliotecas públicas e dos colégios. A educação física era obrigatória. No Grupo Escolar, ela se fazia na marra, porque a maioria dos alunos morava distante do Grupo Escolar e trabalhavam com os pais na lavoura ou criação de porcos.

Feliz ou infelizmente para mim, meu pai era comerciante. O que não me livrava da mais detestável tarefa caseira, lavar e enxugar pratos.

Só vim a conhecer a merenda escolar no quinto ano primário. Na época, chamado de admissão (para o secundário). Era uma extensão do quarto.

Religião era obrigatória. Os evangélicos tinham seu próprio sistema de ensino religioso.

Levava merenda de casa e gostava de trocar com os lanches dos filhos dos colonos. Geralmente mais gordurosos, como pão torrado com banha de porco, açúcar e canela. ou linguiça caseira com pão e café com leite morno. Minha mãe costumava fazer pão com banana amassada e açúcar e rabanada, que eu adorava. Essa não tinha troca-troca.

A Era da Leitura

Mas livros sim. Depois de algumas não-devoluções, parei de emprestá-los. Livros eram caros, e a gurizada se dividia entre os que liam pouco ou nada e os que liam “demais”, segundo alguns pais. que queriam é deixar os filhos em maiores voos para auxiliá-los nas lavouras. Essa era minha São Vendelino e Montenegro do Brasil de 1947 até 1958.

Depois veio o segundo grau, científico (medicina, engenharia, odonto etc) e o clássico (direito, ciências sociais, filosofia, mestrado etc). Alguns, como eu ficavam no científico para futuras profissões como piloto de avião e assemelhados, apesar da simpatia pelo clássico.

Ainda não tinham inventado o xis usado hoje. As provas eram todas cursivas, então tinha que saber escrever. Mas essa já é outra história.

Os intocáveis 

Esse caso de Canoas, da professora que foi ríspida  e ameaçou alunos. Com risco de ser mal entendido, a repercussão da sua demissão levará muitos mestres a cochichar, por assim dizer. Os alunos podem fazer o que lhes dá na telha. É proibido ralhar.

Estamos criando uma geração de intocáveis que pode fazer gato e sapato e estar nem ai para os professores. Na sequência, estarão nem aí para os pais. E, mais adiante nem aí para sociedade. Moleza demais, obrigações de menos.

Desaparecimentos

Por que ninguém mais come gemada? Por que os pais não dão mais gemada para os filhos, esse lanche/sobremesa de pura proteína? Para ficar “dos deuses” é só botar uma gotinha de extrato de baunilha.

Os perigos do salto

Lula calçou salto alto 18. Fala como se a eleição fosse favas contadas.

Fã clube

Os militantes de Ciro Gomes estão se chamando de cirilistas. Já temos lulistas, bolsonaristas, mas ainda não temos doristas, tebetistas, leitistas (ou eduaristas).

O crime do milênio

Na visita que a direção do Tribunal de Justiça do RS fez ao Jornal do Comércio  surgiu a questão dos hackers. O episódio de que o Tribunal foi vítima não teve danos, o que não significa que eles tenham desistido.

São centenas de tentativas POR DIA, todas rechaçadas. E são profissionais, porque tentar hackear uma instituição como o TJ custa muito dinheiro, que amadores não têm, como regra. Não é só sentar na frente do computador e mandar bala.   

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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