O raio que o parta
No tempo em que trabalhei na Folha da Manhã, metade dos anos 1970, convidei o fotógrafo Maurecy Santos para dar uma conferida na construção de uma eclusa no Rio Jacuí, em Cachoeira do Sul. A obra, chamada de Anel de Dom Marco, apresentou problemas de engenharia durante a construção.
Para chegar na obra sem passar pela segurança, era preciso atravessar um potreiro de grande extensão. No meio, um poço coberto com telhado de zinco. Chovia pra caramba, chuva acompanhada de raios. Fiquei indeciso.
– Vou me abrigar no poço – falou o Maurecy, conhecido como Santinho.
E lá se foi ele, apesar da minha advertência. Quando chegou lá, um raio teve a mesma ideia.
Vi um risco, um clarão, cheiro de ozônio. De lá correu o Santinho, assustado e branco como vela de espermacete. Falei pra ele que voltasse para lá e que eu o acompanharia.
Expliquei.
– O raio não cai no mesmo lugar duas vezes.
O Santinho me olhou com fria assassina no olhar.
– Por acaso tu combinou com o raio?