O passado do marechal

23 maio • A Vida como ela foiNenhum comentário em O passado do marechal

Quer dizer, da rua Marechal Floriano Peixoto. Falar em atrações gastronômicas e vida noturna de Porto Alegre, quase sempre remete à Rua da Praia, que nem abrigava tantos bares assim.

Ao contrário, a Marechal teve muitos na década gloriosa de 1960, alguns que avançaram nos anos 1970.

Começando por baixo, em frente ao Terminal Parobé, havia a Churrascaria América, que tinha a classificação BB – boa e barata. Passando a Otávio Rocha, à esquerda ficava o bar Jam, que chegou a ser bem famoso, mas sem muitos méritos, na minha opinião.   

Ao lado sobressai o Restaurante Macrobiótico, o primeiro natureba de Porto Alegre. Era estranho observar as pessoas mastigando a porção por 32 ou 36 vezes, preceito dessa cultura de alimentação. Parecia a composição Bolero de Ravel, repetindo sempre a mesma frase musical.

Como hoje, bares tinham tribos, boa parte universitários ou jovens começando carreira, geralmente vindos do interior. Eram relativamente poucos os nativos da Capital. Por isso, os seis jornais diários dedicavam bom espaço para fatos ocorridos “do lado de fora”.   

Na quadra entre a Rua da Praia e a General Vitorino, mais uma churrascaria, a Zimmer, cujo dono foi proprietário de uma casa famosa na rua Riachuelo, a Churrasquita. Passando a Riachuelo à esquerda, a danceteria onde se dançava de rosto colado, no maior respeito (visível). Quase salão de baile Gato Preto, casa inocente onde garotas solitárias e tímidas eram tiradas para dançar por rapazes também solitários e tímidos.

Em frente ao hoje supermercado Zaffari, o Bar Galarim, um point de jornalistas e magistrados. O dono já tinha um bar no nome: Barcelino Becker. Depois que vendeu, comprou um barco de pesca. Do bar para o mar.     

Logo depois da Riachuelo, o Banco da Província abriu, em 1966, a primeira agência bancária só para mulheres. Ao lado, ficava o Montanhês, do português Álvaro Monteiro, bar-restaurante onde se bebia scotch livre de falsificações.

Quase na esquina com Salgado Filho, o Gilbert’s era famoso, de propriedade de dois espanhóis. O garçom Luiz se esmerava em atender sozinho dois ambientes; o de cima, permitia amassos.

Comidinhas: sanduíche aberto, salsichas Viena com pão ou aliche com pão preto. Mais perto da Duque de Caxias o Adelaide’s Bar, reduto da boemia, MPB, chorinho, música da velha guarda, que merece uma historinha à parte. Noel Rosa não precisava de cartão de visita para se apresentar.

Defronte, mais uma churrascaria do tipo bastantão, que teve vida breve e cujo nome passou batido. Para preservar a intimidade dos frequentadores, depois da porta havia um biombo de vime.   

Assim foi, e dou fé.

https://www.brde.com.br/

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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