O caso da cobra verde
Diversão de porto-alegrense era o cinema, e a sessão preferida era a das 22h. Quando o fim do filme coincidia nos cinemas Imperial e Guarani e, às vezes, com o Cacique, uma multidão tomava conta das calçadas e leito da Rua da Praia – não havia calçadão à época. Os carros podiam estacionar na frente da Praça da Alfândega de noite.
Certa feita, um jornalista do Correio do Povo, no tempo do doutor Breno Caldas, escreveu uma crônica falando sobre cobras, que ele admirava. Um leitor do Interior então mandou a ele uma pequena e inofensiva cobra verde, em caixa de sapatos.
Para evitar problemas, dispensou a caixa e botou o réptil no bolso do paletó. Eram 22h e o jornalista esperou um amigo, funcionário do Banrisul, Bergs na época, para molhar as palavras no Tuim.
Bem na hora da saída da multidão, eles se separaram durante a
tarefa de passar pelo muro humano. Achando que o jornalista estava logo atrás dele, o bancário levou a mão para trás e encostou a mão nos países baixos do amigão.
– Como vai essa cobrinha?
Só que não era o jornalista, era um rapaz espadaúdo que logo abriu um bocão.
– Velhote depravado!
O vermelhão no rosto do coitado brilhava mais que sinal vermelho, mesmo sendo de noite, e assim ficou por alguns dias.
Brincar com cobra sempre é perigoso. Ainda mais com cobra alheia.