O caminho fácil da burrice

19 jun • NotasNenhum comentário em O caminho fácil da burrice

Esse episódio da comerciária que não sabia o que era calçadeira é um dos tantos sintomas do baixo nível de estoque de palavras, aliado à autossuficiência e falta de cultura por falta de leitura. Não só no comércio, é deficiência geral. Inclusive em camadas de maior poder aquisitivo.

Ter dinheiro não exclui a burrice nem o nível cultural. E assim este nosso Brasil caminha alegremente para uma idade das trevas. 

A Copa por sinais

Lembrei dos cursos capacitantes da Copa do Mundo em Porto Alegre. O então secretário da Prefeitura encarregado de assuntos envolvendo o campeonato disse, espantado, que, apesar de dezenas de cursos gratuitos de capacitação, só apareceram 16 interessados. De graça, repetindo.

https://cnabrasil.org.br/senar

Em um deles, a concessionária da Estação Rodoviária disponibilizou aulas gratuitas de inglês básico para taxistas. Só apareceram dois. Instado a explicar porque não quis se aperfeiçoar, um explicou que se comunicava por sinais. Muito bonito. Quero ver ele dizendo para o turista a história rápida de Porto Alegre.

Sinais por sinais, os visitantes insatisfeitos bem que poderiam fazer aquele em que se ergue apenas o dedo anelar, muito usado nos Estados Unidos. 

Barracão de zinco… pobretão, infeliz.

Como no samba cantado por Elizete Cardoso, a cada episódio da fúria dos elementos, como aconteceu na madrugada de quinta para sexta, fico surpreso em ver que os barracos das favelas sofrem menos prejuízos que construções sólidas, apesar do improviso de pregar ou juntar pedaços de madeira por aí. Anos e anos, décadas até, observo essa aparente contradição.

Engenharia do improviso

É um bom assunto para ser esmiuçado a fundo. Provavelmente os próprios moradores tenham adquirido empiricamente algumas técnicas de solidez construtiva. Ou a aglomeração de moradias é de tal forma que a ventania não consegue achar um caminho para causar aquilo que nasceu para ser feito, a velocidade crescente entre um barraco e outro, mas que no caso não encontrou retas para ganhar potência.

Pode ser, sei lá. Mas é interessante ver essa maravilha que resiste aos torós.

Feito o estrago, sempre se ouve alguém culpando o governo pela chuva e vento. Os índios norte-americanos faziam a dança da chuva em tempos de estiagem, com feiticeiros meteorologistas que olhavam para cima e para alertas antecipados da  natureza, o que os diferenciava do resto da tribo.

A casinha da chuva

Os mais antigos devem se lembrar que no interior cada casa tinha uma casinha de chuva, geralmente com dois personagens (homem-mulher, galo–galinha etc) se alternando para entrar e sair. A técnica consistia em pintá-los com uma tinta que expande a madeira em caso de baixa pressão aliada à umidade relativa do ar. 

Tem a ver com a temperatura do ponto de orvalho mas essa é outra história. O fato é que funcionava na maioria das vezes, embora em cima do laço.

Por falar em umidade…

Quando se ouve que a umidade relativa do ar está em 90% ou mais não vai a uma loja comprar guelras. Com 90% você morreria afogado. Por isso que se diz “relativa”. O máximo de umidade que o ar permite é em torno de 23%. Então 100% de umidade RELATIVA do ar é em cima de 23%.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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