O apartamento visto de fora

22 jun • NotasNenhum comentário em O apartamento visto de fora

Em conversa com um amigo empresário, que sofre as consequências do tudo parado durante a pandemia, disse a ele que deveria tirar uns dias para clarear as ideias. “Pô! Logo agora que o bicho tá pegando me vens com essa de tirar férias?”, falou.

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Sim, eu respondi, tens que dar um tempo para ver como teu negócio funciona olhando de fora. Não ficou lá muito convencido, e até porque ele é meio sozinho no negócio. Mas sustento a sugestão.

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Sempre esgrimo um exemplo clássico, banal até, mas que deve ser considerado. Você morou toda a vida dentro do mesmo apartamento, então como sabe como o prédio é por fora? Por isso que, desde os gregos, o Homem se pergunta como ele é realmente sem a contaminação de pensamento.

Todos nós temos quatro por dentro, um é o mais terrível, que não dominamos, o inconsciente. Os outros três são o que você pensa que é, o  que os outros pensam que você seja e como é na real. O resumo é que todo e qualquer julgamento seu nasce contaminado.

Como os outros também não sabem exatamente como você é, também invalida o diagnóstico. Resta o inconsciente. Mas esse ninguém conhece, nem mesmo os psiquiatras.

Costumo brincar com eles perguntando se sabem qual a diferença entre um neurótico, um psicopata, um psicótico e um psiquiatra. Explico que o neurótico imagina castelos no ar, o psicopata vê os castelos no ar, o psicótico habita esses castelos – e o psiquiatra cobra aluguel.
Se assim somos, como querer que o mundo possa ser “normal”? 

Dois anos em 24 horas

Se fosse possível comprimir o tempo e reduzir os dois anos de pandemia mais um como extensão para um dia, morreríamos de susto com a velocidade de mudanças – e mudanças para pior. Países que no “dia” anterior ganhavam um belo dinheiro vendendo suas commodities metálicas e agrícolas, de repente, viram mercados travados e compradores arredios porque a economia deu marcha-ré.

E, com ela, houve transformações radicais nos usos e costumes porque a cabeça do “dia” anterior era uma e, 24 horas depois, era outra.

Não bastasse toda essa ronha, a guerra da Ucrânia mostrou que o faroeste nunca deixou de existir, e que o bandido continuava assustando a cidade e seus pacatos cidadãos. Pior, o xerife é fraco e nem mesmo sabe lidar com o bandido.

Não há John Wayne que resolva essa parada. Por extensão, a política tal como a conhecemos ficou irreconhecível, mormente a brasileira, que já não era lá essas coisas.

O retorno dos bárbaros

Já fiquei rouco de tanto repetir sobre a barbárie que nos assola, um país dividido em dois. Políticos que, no dia seguinte ao da posse, já pensam em como se reeleger e partidos que querem um naco do poder para perpetuar a espécie, dando casa comida e roupa lavada para os amigos do peito.

O povo, esse ser tão invocado durante as campanhas, agora ficou como aquele computador que perdeu a memória e restou-lhe apenas vaga lembrança.

Na verdade, nunca deixamos de ser bárbaros.

O crime perfeito

No início dos anos 1960, um político mineiro falou “façamos a revolução antes que o povo a faça”. Engano, tal como Tomasi di Lampedusa, no livro O Leopardo, as coisas têm que mudar para continuar a mesma coisa. Por isso somos um país de mesmices.

Só quem se aperfeiçoa é o Crime S.A, que atingiu o estágio dos sonhos: de mandar o crime de dentro dos presídios. Nunca houve logística mais eficiente que essa. Os verdadeiros apenados somos nós.


Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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