Na beira do inferno
Relato de uma vítima de trânsito:
“Hoje é meu quarto dia de repouso. Até agora, tudo tranquilo. Depois que o carro me atirou para o outro lado da rua, vejo que tive muita sorte. Foi assim: o sinal abriu para carros. Tudo bem. Porém, eu estava com a minha muleta canadense, quase no final da travessia e na faixa de segurança. Tem uma placa lá na sinaleira que diz: “Ao dobrar, respeite o pedestre”.
O pedestre, no caso, era eu… Estatelada no chão, em pânico porque sou biônica, cheia de parafusos e com o quadril esperando resultado de vários exames para ver o que pode ser feito, fiquei em choque. Por isto, o pânico.
Do nível do chão eu, em segundos, vi tanques de guerra se aproximando de mim. Gente, a visão do tráfego, por parte de quem está de pé é diferente de quem está deitada no asfalto. É assustadora!
Só via pneus vindo em minha direção. Pneus rodando no asfalto preto. Buzinas histéricas de gente que nem sequer sabe o que está acontecendo comigo e xinga os outros motoristas que param. Motos que aceleram arrancadas mesmo paradas, aterradoras. O caos em segundos.
E sou eu quem está lá, sem se mexer, com medo de ter que ir para cadeira de rodas se meu quadril detonar mais ainda. E eu imaginando mais dores! Já tenho dores físicas acumuladas por três o quatro encarnações. Por isto não sou espirita: me disseram que eu, neste corpo atual, acumulo dores de outra vidas. Pode??
Que pânico! Via os sapatos caminhando, na minha direção, trazendo pessoas que se aproximavam de mim. As vozes chegavam baixinhas, porque as bocas ficavam lá em cima.
Eu em pânico, não me mexendo. Estava em posição de crucificada no asfalto. Não posso me mexer, pensava obstinada. Respondo algumas perguntas de um transeunte médico que chegou ali, e me faz exames rápidos, me tranquilizando.
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