Minha vida em três séculos

10 abr • NotasNenhum comentário em Minha vida em três séculos

Outro dia, uma amiga falou que o avô dela tinha participado da II Guerra Mundial, de 1939 a 1945. Disse a ela que isso era fichinha perto do meu. E expliquei meu caso, que a deixou boquiaberta.

Meu pai nasceu na Alemanha em 1897 e participou da I Guerra Mundial a bordo de um caça-minas da Marinha Imperial. Esta guerra que começou em 1914 se estendeu até 1918.

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O pai tinha 20 anos, portanto, lutou em 1917. Veio para o  para o Brasil em dezembro de 1920 e chegou aqui em janeiro de 1921.   

Agora a história fica interessante. Meu avô paterno, Remigius Albrecht, que infelizmente não conheci, morreu na Alemanha em 1952, aos 92 anos. Portanto, nasceu em 1860, um antes do começo da Guerra da Secessão dos Estados Unidos sob comando do presidente Abraham Lincoln.

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Perceberam? Avô, 1960. Não bisavô ou tataravô, avô. Herr Remigius nasceu quatro anos do começo da Guerra do Paraguai.

A família do pai era longeva. E, tanto meu pai quanto eu, fomos concebidos com os respectivos progenitores já na casa dos 40 anos. Raspa de tacho, como ainda se diz aqui e acolá. Três gerações em três séculos, é mole?

A dor que se exploda

Até ontem, e provavelmente por mais uma semana, a mídia fará o que pode, mas não deve: dar suíte a tragédia de Blumenau, especialmente rádio e televisão.

Imagem: CanvaPró

Há anos que eu bato na mesma tecla. Ela deveria cobrir apenas o essencial nos dois primeiros dias pós-tragédia. Depois, só deveria voltar ao assunto em caso de novidade palpável.

Mas não, a morbidez leva o sofrimento das famílias muito mais adiante. Já nem falo nas redes sociais, que também têm culpa em cartório.

Porém, noto que há uma luzinha no fim do túnel pelo menos de parte dos impressos e suas versões digitais. A Zero Hora, por exemplo, já não publica o nome dos autores de massacres porque é isso que esses animais querem, notoriedade.

“Falem mal, mas falem de mim.” Dificilmente um deles não quer ver seu nome exposto, seja maluco de pedra ou não.

Há dias, comentei o pacto entre chefes de Reportagem Policial dos jornais de Porto Alegre, em meados dos anos 1960. Depois dele não se noticiavam mais suicídios.

Esse negócio, bem como chacinas, são contagiosos, vocês sabem. No meu entender, o problema maior está nas rádios. Nelas e nos repórteres que fazem barbaridades ao entrevistar parentes das vítimas e eventuais testemunhas, vizinhos etc.

Como é sabido, o povão adora uma latinha, jargão para microfone. Ainda mais se tiver câmera assestada nos entrevistados.

A testemunha ocular é a prostituta das provas, como dizem os operadores de Direito. O povo não é sincero, na maior parte. Mas nem sempre por má fé. São os 15 minutos de fama dele.

Já os entrevistadores, ai meu Jesuscristinho, quanta barbaridade. “Como o senhor ou senhora se sente?” Isso para os pais das vítimas. E por aí afora.

E por dias e dias, mesmo sem maiores novidades no caso. Quando completa um mês, lembram de novo a tragédia, assim como um ano ou 10 anos depois. As famílias renovam sua dor com esse triste espetáculo midiático. A dor deles que se exploda.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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