Milagre eleitoral
Quando me dizem que o número de ateus e agnósticos vêm crescendo no Brasil, peço vênia para discordar. Os teólogos observaram que, de quatro em quatro anos, o número de brasileiros tementes a Deus – seja qual for a religião – aumenta exponencialmente. Ó, Nossa Senhora das Urnas Eletrônicas, qual seria a razão?
Fiz uma rápida pesquisa, se é que precisava, e descobri que nunca como essa eleição os candidatos não só deixam de ser ateus como participam de cerimônias religiosas de todas as religiões.
Jair Bolsonaro a gente sabe que é evangélico desde sempre. E foi em parte graças a ele que se elegeu e tem o voto da maioria desse grupamento para a reeleição. Mas como quem não é visto não é lembrado, lá está ele nos cultos.
Enquanto isso, Lula exibe anúncios religiosos 23 milhões de vezes em três semanas, anota o site Poder360. Ora, nem Fátima teve tanta devoção. Vendo que seu nome estava ligado a um impossível fechamento de templos e igrejas, os artífices da campanha trataram de convertê-lo. Ou reconvertê-lo. Sabem como é, vai que…
O poder dos joelhos
A Festa de Nossa Senhora dos Navegantes em Porto Alegre sempre tem grande número de políticos a prestigiá-la, especialmente em ano eleitoral. É comum que gente do povão vista seus pimpolhos de anjinhos de azul e branco e suba a escadaria da igreja de joelhos, mãos postas e olhando para o céu na mesma pose facial dos santos e santas dos santinhos de antigamente.
O poder dos joelhos é impressionante. É só colocá-los na frente de uma igreja que você vira devoto e anjinho de procissão.
Anjos, querubins e outros seres celestiais são retratados com as faces rosadas. Já o político travestido de anjo nem mesmo fica vermelho. Grande novidade. Eles não ficam vermelhos nem quando surrupiam doces de criança de colo.
Nas religiões de matriz africana – Navegantes tem as duas festas por causa de Iemanjá – dá-se o mesmo. Vai que, é o raciocínio geral de suas excelências ou em vias de sê-las.
Um guerrilheiro nada católico
Quando da Constituinte de 1988, em plena campanha eleitoral, dezenas de candidatos lá estavam pedindo graças e votos, não necessariamente nesta ordem. O vereador Artur Zanella, já falecido, cultivava amizades até entre os ferrenhos comunistas.
Um deles, que fora guerrilheiro de ponta, foi apresentado por Zanella à sua mãe. A velhinha olhou para cima e desandou a elogiar o amigo do filho.
– Mas que senhor simpático! Tem cara de bom moço, de gente boa. O que o senhor fazia antes de ser político?
O amigo do filho desconversou, não era hora, afinal era festa religiosa. A velhinha insistiu, repetiu a pergunta um monte de vezes, sempre acompanhada de elogios ao senhor que ela considerava gente fina e boa, até que o comunista ficou exasperado.
– Já que insiste. Olhe, eu já roubei bancos, dei tiro de metralhadora torto e a direito, fui o que a senhora chamaria de terrorista…
A velha começou a arregalar os olhos.
– …roubei o cofre cheio de dólares de um governador, larguei bomba em quartel. Isso para ficar só em algumas ações contra essa burguesia capitalista miserável….
Neste ponto a vovó o interrompeu. Com olhar azedo e semblante severo, alterou a primeira impressão.
– Logo vi que o senhor não prestava!
Nada como uma festa religiosa para abrir o coração dos mais empedernidos ateus.
Perdi a conta do número de releases de empresas que recebo em que no título ou início do texto se lê “Com foco em resultados…”. É a mania das assessorias que botam o óbvio, que se torna uma robusta bobagem
Ou alguém já viu guia empresa que tenha foco em prejuízo?
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