Meu passado no bicho (final)
No A Vida de ontem, narrei como saí à procura de uma noite de paixão selvagem a bordo da minha possante Vespa num sábado à noite.
Mulher se amarra em um pé-de-borracha, vocês sabem, e mais ainda na época. Tomei um banho, fiz a barba com gilete inglesa Wilkinson contrabandeada, vendida pelo garçom Creso, desodorante em bastão e perfume Lancaster. O rótulo era igual ao kilt, o saiote de escocês, xadrez preto e vermelho.
Saí da rua Eudoro Berlink, peguei a 24 de Outubro e dobrei à direita na Dr Timóteo, rua em que havia várias mansões. Logo depois da esquina tinha uma dosa no portão girando a chave. Dosa girava o chaveiro para mostrar que era a dona da casa e fazia isso quando os patrões estavam fora. Batata, não falhava uma. Estacionei, puxei conversa como é teu nome-estudas?
– Sim estou tirando medicina. Tudo gabolice.
– Mas com esse calor todo, não veraneias?
Perguntei por perguntar, só para dar trela.
– Claro que veraneio!
– É mesmo? Em qual praia?
– Canoas.
Não, essa não.
– Como assim se Canoas não tem mar nem praia?
Ofendidíssima, ela abriu o portão e bateu a porta de ferro trabalhado na minha cara.
– Como que não? Capão das Canoas!
Rir não é o melhor remédio numa hora dessas. Ri e perdi o que deveria ser uma longa noite de orgia.
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