Meios governos
Se pararmos para pensar sobre eleições e mandatos, o essencial salta aos olhos. Primeiro, às temos de dois em dois anos. Segundo, esse é exatamente o tempo em que um eleito para presidente ou governador tem para trabalhar.
No primeiro ano, ele apenas toma pé da situação para conhecer a máquina. No segundo, ele encaminha suas principais promessas de campanha. Isso se tiver o apoio da Assembleia Legislativa ou Congresso.
No terceiro, engrena, de fato, ou escancara o fato de que não é do ramo. No quarto, serve café frio ou se dedica à reeleição, que nunca esteve fora do seu dia a dia. Quer dizer, governar mesmo, só dois anos.
O grande circo
A minha imagem de eleição no Brasil é como assistir um carrossel de cavalinhos parar no mesmo lugar. Os cavalinhos dão a volta e acabam sempre passando na nossa frente.
Às vezes, tem cavalo novo. Não raro é cavalo que está no lugar desde que o circo foi montado. É um grande circo com parque de diversões. Os eleitos andam de montanha russa, com seus altos e baixos.
O palhaço se esmera em fazer rir para não chorar. O túnel do terror terá que ser encarado cedo ou tarde. Tiro ao alvo é quando destrói inimigos até ele ser o alvo. O leão não é manso.
Governantes são trapezistas e equilibristas do circo. A mídia é aquele que diz “respeitável público” e anuncia as atrações. Nas arquibancadas, sentados estão os com ou sem-título de eleitor. Eles pagam para entrar e para sair do circo.
Tempos de mesmice
A história se repete para quem viveu mais de oito ou nove eleições. São sempre os mesmos números, os mesmos equilibristas, os mesmos palhaços e domadores, a trupe muda de cara, mas não de função.
A uma certa altura da vida, você só curte o espetáculo se não tiver memória. As mesmas vãs promessas, as mesmas decepções – com raras surpresas positivas. Raríssimas, melhor dizendo..
Festa no interior
Aos poucos, vai aumentando o fosso entre a cidade grande e o interior. Porto Alegre é um bom exemplo. Até meados dos anos 1980, os nascidos em outras cidades eram minoria. Ou eles ou os pais migraram para a cidade grande quando eram jovens. Com o correr dos anos, mais porto-alegrenses “puros” nasciam. E existe uma explicação.
Em décadas anteriores, as cidades não tinham estrutura de saúde e de educação. Qualquer consulta ou exames mais especializados e lá se vinham eles para a Capital, destino Santa Casa. Hospital só para o básico. Poucas tinham universidades e, se as tinham, as opções eram poucas.
Além disso, as luzes da cidade atraíam os jovens. Elas e uma gama muito maior de mulheres para namorar. Além de outros jovens para compartilhar a vida noturna, bar-chopes em penca, teatro, boates, resumindo. Para as garotas era mais difícil. Ponham-se no lugar de alguém com 18 ou 20 e poucos anos cansados da monotonia do seu lugarejo.
A árvore que perdeu seu futuro
Interior é como uma árvore nativa que anseia sentir o vento dos grandes centros urbanos. Vai virar lenha ou móvel. Adeus vento.
Com o tempo, parte das cidades passou a ter cursos superiores, hospitais melhores, e o crescimento populacional era um fato. Não à toa que, há cerca de 25 anos, o fluxo de ônibus na Rodoviária de Porto Alegre começou a diminuir, e a facilidade do carro próprio acentuou a tendência.
Hoje, os moradores da Capital e outras cidades grandes -nós cá e eles lá- começam a ter vontade de se mudar para cidades pequenas, uma volta de 189 graus. Muitos fazem isso. Quem pode, volta.
O fosso a que me refiro é cultural. Os interioranos são mais ingênuos, no bom sentido, e cultuam valores e comportamentos que a cidade grande jogou fora. Usam terno e gravata para ir à igreja e em casamentos.
Inocência perdida
Certa vez, topei com um secretário da prefeitura de pequeno município do Vale do Caí, contemporâneo do ensino médio, ex-ginásio. Levava uma grossa pasta e se dirigia para Assembleia Legislativa. O que faria lá?
– Queremos asfalto – falou.
Sacudi a cabeça.
– Primeiro vocês pedem asfalto e depois quebra-molas…
Gente do interior, fique na sua enquanto pode. A cidade grande está podre.
Em outros tempos, ensaiei uma mudança para capital….Na época comentei com um superior de profissão meus planos (poucos) e duvidas (muitas). Recebi o conselho: Antes ser tubarão no rio, que peixinho no mar (lambari) .