Estágio probatório

19 dez • A Vida como ela foiNenhum comentário em Estágio probatório

Rua da Praia, no Centro Histórico de Porto Alegre, sempre foi a passarela dos mais variados tipos, como qualquer cidade grande que se preze. Muitos desfilavam suas bizarrices de forma silenciosa, outros falavam bastante, outros cantavam ou filosofavam. Mais recentemente, de uns 20 anos para cá, surgiram os pastores ou assim se apresentavam.

Algumas seitas usam a Rua da Praia e a Praça da Alfândega como uma espécie de estágio probatório. Alguns são notáveis humoristas. Soube que algumas igrejas testam os futuros pastores na arena da batalha verbal, uma espécie de estágio probatório.

Caso de um gordinho e vociferante, Bíblia na mão, que narra os textos sagrados de uma forma tal que o levariam para a fogueira no tempo da Santa Inquisição. É um prático-militante, de igreja própria, à espera de algum imprimatur vocal. Mas a voz, meu Deus, a voz!

Se você passar ao lado dele justo na hora em que alguma vogal sair da sua boca, consulte em seguida um otorrino. Os “As” fritam seus tímpanos, os “Os” implodem a trompa de Eustáquio (não confundir com a tromba do Eustáquio), os “Is” fazem os cachorros ganirem. O “E” derrete instantaneamente a cera do ouvido.

Outro desses santos homens, parecido com o místico do filme “O Exército Brancaleone”, alterna gritos e sussurros. Ele tem o mau costume de parar do lado de quem olha alguma bela mulher e aciona a sua trombeta de Jericó vocal para todo mundo ouvir.

– Deus não gosta de quem olha a mulher do próximo, ouviram?

Claro que ouvimos. Até do outro lado do Atlântico. Todos eles são manjados. Mas recentemente apareceu e logo desapareceu uma novidade.

Com sotaque baiano e vestes idem, ele é bem mais enigmático do que seus colegas que advertem os pecadores sobre a mãe de todas as fornalhas. Dá para entender perfeitamente a frase final da sua pregação.

– A missão do Senhor é acabar com as loiras!

Meu Deus! Além das piadas, extinção em massa.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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