Duque, 533
Passei na frente do prédio onde morei entre os anos 1968 a fins de 1969, rua Duque de Caxias, 533, segundo andar. De frente para a rua, tinha uma pequena sacada.
Foi um dos períodos mais felizes que tive neste vale de lágrimas, com alguns risos no meio do caminho. De tarde, trabalhava no Banco da Província; de noite e de madrugada no jornal Zero Hora.
Além disso, cursava Jornalismo na UFRGS e de tarde. Posso dizer que eu não dormia, desmaiava.
Apesar disso ou por causa disso eu era feliz. Os horizontes se abriram um por um, já tinha optado por não seguir a carreira bancária. Eu seria gerente em pouco tempo, mas não era minha praia.
A ideia de envelhecer sentado em uma escrivaninha era ruim. Não, eu queria sair da escrivaninha.
A soma de dois salários me deixou menos pobre. Então, eu podia dispensar o RU, aquela comida nojenta, e comer comida do que hoje chamamos de bufê. Massa, bife à milanesa, refrigerante Minuano Limão.
Era um prédio de respeito. Nada de trazer mulheres. Mas sabem como é, sempre se dá um jeito quando a libido nos envolve.
Uma das minhas sete maravilhas era poder ouvir o barulho da chuva na copa de um jacarandá em frente e também nos grandes paralelepípedos logo abaixo. Sinfonia perfeita, amo barulho de chuva.
Quando chegava em casa, dormia duas horas. Quem me acordava era o primeiro bonde da linha Duque.
O dinheiro não dava para comprar um fusquinha, usado que fosse. Mas não era o fim do mundo. Ao contrário, eu era feliz no meu pequeno mundo da rua Duque de Caxias, 533, segundo andar.