Dois em um
Já foi mais interessante ler jornal neste país. De dois anos para cá parece o Bolero de Ravel, uma peça erudita que repete a mesma estrofe musical por uma eternidade. Tem quem goste, assim como tem quem goste de pizza de estrogonofe. Fazer o quê? Eu não fiz o mundo, só vivo nele. Não tinha esse noticiário samba de uma nota só.
Cheguei a uma conclusão: a única novidade que se lê em jornal, hoje em dia, é a página dos necrológios, quando eles a têm, caso da ZH. Aí lembrei o caso de um senhor de idade de cidade do Interior que foi no balcão de anúncios do jorna local. Perguntou qual o preço do menor anúncio fúnebre disponível, uma titica de espaço. Manda, disse o do balcão.
– Morreu Sara.
– Pode botar mais, ainda tem espaço.
O homem botou o sobrenome da falecida.
– Ainda há espaço – falou o plantonista do comercial.
– Bota depois do nome “enterro 17h Cemitério Municipal”.
– Bem, ainda há um pequeno espaço que o senhor pode preencher.
– Vendo Opala 1978 bom estado.
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