Diário da peste

1 abr • Caso do Dia, NotasNenhum comentário em Diário da peste

ÀS VEZES, acho que o ministro da Saúde, Mandetta, tinha razão ao recomendar que não se veja televisão. Me digam o que a TV está informando além dos números da pandemia? Ouvem especialistas que têm opiniões coincidentes ou ainda repetem – com ar professoral – que as pessoas precisam se proteger. Como se isso fosse a invenção da roda.

Imagem: Freepik

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DIZEM alguns leitores que estou pegando pesado com o que nós  chamamos de mídia. Não boto todos os colegas no mesmo saco. Mas é claro, claríssimo, que tem muita gente despreparada emitindo opinião. Pior, tem fé pública. O povo vai atrás como cão vai atrás do osso.

REPITO o que venho dizendo antes do vírus aparecer: se todas as instituições estão em  rua E, por que o jornalismo seria uma exceção? Mas tem outra mosca na sopa

 Com a  queda acentuada das receitas publicitárias, tiveram que cortar salários mais altos, justamente o que os mereciam pelo fato de que eram bons no que faziam. Aí entraram os estagiários com tesão mas sem conteúdo e sem base de comparação. Não se bota piloto recém brevetado no assento direito de um Boeing 747 sem que ele tenha um bocado de horas de voo, e isso leva anos.

TEM mais. Com a  redução de gente nas redações, se cobre menos fatos que já eram maiores em número que repórteres mesmo nos bons tempos. Muita notícia para pouco jornalista. Agora então, nao rem gente nem para cobrir eventos além de duas quadras. Até o uso de viaturas está racionadi.Em resumo, estamos com déficit de notícias.

PARA que não se diga que só vejo o lado ruim, devo cumprimentar os colegas que fazem o que podem e até se superam. Estes são os bons de verdade, lutando até com falta de equipamentos básicos.

ESCREVI estas notas para página 3 do Jornal do Comércio, Começo de Conversa. Achei pertinente  reproduzi-las aqui. Eu,  que não sou o Joāo das notas me sinto assim, imagina ele.

Atribulações de um João Ninguém  I

Jogado de um lado para outro com a multiplicação de informações contraditórias, mais a guerra civil entre os poderes, chacoalhado como uma rolha na correnteza, o atribulado João Ninguém tenta se equilibrar na corredeira da cizânia com pororoca de vídeos terroristas falsos.

Atribulações de um João Ninguém II

Entre a extrema confusão e oscilando entre o pânico e depressão, o joguete tenta cumprir alguns compromissos inadiáveis. Qual o quê. Mesmo estando às moscas, os bancos demoram a resolver casos simples, isso se conseguir convencer o atendente. Tudo é tão difícil, tudo é tão confuso…

Atribulações de um João Ninguém III

Vai nas farmácias e outros lugares onde se aplicam vacina contra a gripe e só ouve uma palavra: terminou. Se quer comprar um lanche tem que fazer uma varredura para ver o que está aberto.

Atribulações de um João Ninguém IV

Volta triste para casa, sem eira nem beira, acreditando e desacreditando de tudo que vê e lê. E se for idoso, ainda tem que aguentar olhares de repulsa e alarme como se fosse a Grande Ceifadeira em pessoa. Sem dinheiro, sem amparo, sem sorte, sem futuro e sem sono para esquecer sua triste sina por algumas horas.

PENSAMENTO DO DIAS

Eu gostava mais das redes sociais quando eles não existiam.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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