De louco também tenho um pouco

13 jul • NotasNenhum comentário em De louco também tenho um pouco

Resolvi tomar tenência. Em vez de gritar “parem o mundo que eu quero descer!” quero é entrar nessa doideira de corpo e alma. Já estou nela, mas agora resolvi encarar a doideira como condição de vida. Só doido compreende doido, e zé fini. 

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Para falar a verdade, comecei a ver que o planeta Terra enveredou por um caminho sem volta em uma noite de 1961. Li – sim, na época a gente lia e escrevia com letra legível – que o mundo chegara aos 3 bilhões de habitantes um ano antes.

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Dez anos depois, éramos 3,682 bilhões, em 1980, 4. 433 bilhões.  Hoje temos 7,8 bilhões e cacarecada. É muito boi para pouco campo.

Gasolina no fogo

Perceberam a aceleração rumo ao desastre? Enquanto isso, em 1960 éramos 72,18 milhões de brasileiros. Dez anos depois, “noventa milhões em ação”, como na letra da Seleção Canarinho, que venceu a Copa do Mundo.

Na época, perguntava-me quando chegaríamos aos 200 milhões. Hoje, não só chegamos aos 200, mas somos 320. Então, ponha-se em algum cantinho dessa nauta insensata e torça para ninguém fazer ondinha de titica em sua direção, o que é altamente improvável.

Leitores e jornais de ontem

Nos primeiros anos de jornalismo, eram poucas as pesquisas de hábitos de leitura de jornais. E, das poucas, a maioria era norte-americana.

Portanto, não tem comparação o que um vendedor de cachorro-quente gosta de ler no jornal com um interiorano do Brasil profundo. Isso se ele ler. Em parte, porque perdemos esse hábito, e a culpa não é do leitor comum.

Os jornais passaram a ser como uma nau, cujo capitão acha que ruma para oeste quando está indo para leste. Lembro de 1975, quando lia os excelentes relatórios Marplan feitos para a Lintas, agência do Grupo Gessy Lever sobre hábitos de leitura e consumo. A reprodução era proibida, então só decorei o texto. Não era pecado.

Quem lia mais

Em 1974, chegou-me às mãos uma pesquisa feita nas principais capitais brasileiras que tinha uma só pergunta: você lê jornal diariamente? O trabalho era estratificado por faixa etária e, dentro delas, por renda e profissão, do médico ao inapitário, como eram chamados os que trabalhavam no INPS.

Para surpresa geral, menos para mim, Porto Alegre era a capital onde engenheiros, bancários, empresários, garis, funcionários públicos e até mendigos liam mais do que em cidades como Rio de Janeiro e São Paulo. E de goleada.

Na edição dos sábados na Folha da Manhã, eu fazia uma página intitulada Propaganda, RP e marketing, então palavra nova, e comentei o assunto.

Quando o carteiro chegou

Semanas depois, recebi uma carta em papel luxuoso, daqueles com o monograma do remetente em alto relevo já no papel, do diretor da agência McCann Erickson para a América Latina, baseado na Venezuela. De alguma forma, meu escrito caiu nas mãos dele.

Eu tinha comentado que, talvez, a explicação fosse o fato de Porto Alegre ter uma população majoritariamente nascida no interior, e que a leitura dos diários se dava porque todos os seis mantinham uma seção dedicada aos municípios do interior do RS. Talvez fosse essa procura que aumentava o número de leitores com as raízes neles.

Claro que fiquei gratificado, afinal um humilde escriba do estado mais meridional do Brasil ter sido notado por um executivo internacional de uma multinacional de propaganda. No texto, ele dizia que eles já haviam detectado que a capital gaúcha lia mais que outras. Mas não tinham conseguido descobrir o motivo, daí porque a minha explicação era uma abordagem nova e como tal seria por eles considerada. Era a glória.

Um final triste

Agora vem o triste fim da história. Mostrei a carta para Francisco Antônio Caldas, filho de Breno Caldas, do poderoso grupo Caldas Júnior. Má ideia. Ele nunca a devolveu. 

Um mês depois o Maurício Sirotsky Sobrinho me convidou para ser produtor e coordenador do primeiro programa de agropecuária da TV brasileira, o Campo e Lavoura, exibido aos domingos de manhã na então TV Gaúcha, hoje RBS TV.

Por volta de 2008, fui até um dos ex-funcionários homenageados pela RBS na Expointer. Alguém da empresa lembrou de mim. Hoje, ninguém lembra.  Aí mesmo perdi contato com Tonho Caldas. E adeus carta. 

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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