Como vencer uma eleição ou ficar famoso 

14 jan • NotasNenhum comentário em Como vencer uma eleição ou ficar famoso 

Na edição de ontem comentei particularidades e cuidados que os candidatos destas eleições devem ter nos programas eleitorais. Foi no meu lado sério. Mas hoje vou adotar a cultura de chutar o pau da barraca. É dirigido para os que sabem ou desconfiam que não têm chances ou são poucas. O parâmetro é um jogo de futebol em que um dos times está perdendo de 1 a 0 aos 48 do segundo tempo.

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O que fazer?

Perguntou-respondeu o guru dos marxistas Vladimir Lenin no seu livro com o título acima. Lá para os camaradinhas dele deu a receita errada, e o comunismo foi para o brejo 70 anos depois do livro que ele escreveu. No caso do futebol, o treinador tem que mandar até as traves da goleira para a área do adversário. Perdido por um, perdido por mil. Todo o time para frente. Então não pergunte, responda.

A força do balaião

Então, aspirante a político profissional, mande as suas traves para o estúdio onde está gravando o programa eleitoral ou participando de um debate. A cartilha diz “use terno escuro e gravata discreta”. Faça o contrário. Use um paletó com cor berrante comprado em balaio de liquidação de loja da Rua Voluntários da Pátria. Gravata amarela ou camisa aberta mostrando uma imagem de São Jorge presa em corrente.

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Microfone aberto, chance por perto

Assim que a câmera focar em você, segure o santo com uma mão e mostre bem mostrado. Se o microfone estiver aberto atropele, diga que em voz alta “sou crente, minha mãezinha me ensinou”. O produtor vai entrar em alas, e o mediador o admoestará. É tudo que você queria. Peça desculpa, baixe os olhos e repita “sou humilde…” .

Empate é gol

Pronto. Só aí você já empatou o jogo. Claro, é jogo para o povão, não para eleitores de punhos de renda, minoria do eleitorado. A cada respirada ou suspiro (suspire perto do microfone) os olhos estarão em você. Revire os olhos a cada coisa dita pelo oponente, se for debate; se estiver solo, beije o são Jorge. Ok, você já contemplou católicos e umbandistas.

Sanduba ganha eleição

Não esqueça de terminar as frases com “graças a Deus”. Vamos dizer que esteja em debate com candidatos a prefeito, governador e até presidente. Se vira nos 30, se der até tire do bolso um lanche embrulhado em papel de pão e sussurre “é o meu almoço”. Os microfones de hoje são muito sensíveis.

A linguagem dos cabelos

Chame seus adversários de “doutor”, mas revire os olhinhos quando pronunciar a palavra. Regras de ouro: não bote o dedo no nariz. Mas coce a têmpora quando o oponente prometer alguma coisa, ou falar do currículo. Se o gajo for candidato à reeleição, comece sua fala dizendo “mas de novo? Você não aprende nunca?”.

Uma chance ao coitadinho

É preciso poupar um dos outros candidatos o que tem menos chance do que você. De um ser vivo pelo menos. E nunca, mas nunca mesmo, chame de forma pomposa os rivais de “meu oponente”. Nunca jogue com as regras do bom-mocismo. Não esqueça, no final beije de novo o São Jorge e a foto da mãezinha. De preferência bem amassada.

Ah, não vai dar certo? Você acha que os Tiriricas da vida se elegeram como?

Da vila para a fama

Na pior das hipóteses, ficará famoso, dará entrevista para rádios e TV. Fuja da imprensa escrita, dos jornais. Eles editarão suas respostas e vai sair um Frankenstein. Jornalista não tem senso de humor, acha que é um enviado de Deus para salvar o Brasil.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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