Cemitério dos elefantes
Estes robustos e adoráveis mamíferos com aparência de tanque de guerra com canhão flexível às circunstâncias, costumam ir para o local onde outros morreram. Pois foi este o nome que o povo deu à Praça da Alfândega em Porto Alegre, em cujos bancos os aposentados se reuniam para levar dois dedos de prosa, lembrar os bons tempos e reencontrar velhas amizades e colegas de trabalho.
Era fácil reconhecê-los, seja pela idade, seja pelos diálogos carregados de saudosismo e com flechas de indignação pelo vil contracheque raquítico. O Brasil não é justo, costumavam dizer. E vamos combinar que eles têm carradas de razão.
Nas proximidades da Banca Vera Cruz, que recebia jornais de todo o Brasil e do mundo antes do advento da internet. as conversas começavam mais ou menos assim.
– Viste teu holerite deste mês?
Holerite era o contracheque gerado por cartão perfurado nos primórdios do computador.
– Vi. Que vergonha, não?
Seguia-se um silêncio abastecido por mágoas diversas. Passados alguns segundos, o papo seguia.
– Viste quem morreu?
Vida ingrata, mala suerte, não era assim quando eles eram jovens. Por mais que saibamos racionalmente que tudo que teve início terá um fim, não nos acostumamos com a ideia. Nem os elefantes da Praça da Alfândega.