Casinha de aço
Mas da Gerdau. É um clássico da música caipira dos anos 1950. Será que os moradores das nossas favelas e moradias de pau fincado topariam casas pré-acabadas de aço ou outro material resistente? Pois vos afiando que sim, mas com um detalhe: tem que ter espera para um puxadinho – em seguida explico. O caso é que o governo quase só financia minha casa minha vida em prédios. Mas já foi diferente.
Na década de 1990, o governo de então estimulou empresas de construção civil ou assemelhadas a criar projetos. O modelo escolhido seria padrão para todo o Brasil, ressalvadas as diferenças climáticas e regionais.
No Rio Grande do Sul, foram vários projetos. E, por serem muitos, o ministério que criou o programa ficou na dúvida e acabou não escolhendo nenhum. Um deles era justamente a do Grupo Gerdau, referido no título. Se a produção tivesse escala, seria baratíssimo.
O Pardal de Vera Cruz
Um dos modelos mais interessantes foi de uma empresa de Vera Cruz, perto de Santa Cruz do Sul, cujo nome me foge à lembrança. O dono, de sobrenome teuto, conhecido por Professor Pardal, tal a quantidade de invenções que patenteou, convidou-me para visitar a fábrica, que originalmente produzia pinos e bolas de boliche.
Pois o Pardal alemão criou uma casa popular de concreto recheada de isopor para manter a temperatura interna constante. No frio não esfriava e no verão não esquentava. Ideia genial. O preço já era barato por unidade, imagina se fossem dezenas ou centenas de milhares.
Um ou dois anos depois, perguntei a ele se o governo havia pelo menos examinado seu modelo. Pesaroso, falou que não.
É sempre assim neste nosso amado Brasil. Os competentes são atropelados pelos incompetentes.
O puxadinho
A história do puxadinho foi uma observação minha no final da década de 1960, ainda com o BNH a todo vapor. O banco da habitação havia criado a Vila Farrapos, nas imediações onde hoje é a Estação Farrapos do Trensurb. Casas boas, nada dessas fininhas que pareciam de papelão como a história dos três porquinhos.
Havia sido inaugurada um ano antes, no período do regime militar. Como eu era repórter da madrugada de Zero Hora (entrava à meia-noite), antes de ir à luta levava a telefonista, dona Nelly, para a sua, na vila, não havia mais ônibus naquele horário. Casas padronizadas, mas aqui e ali, já se notavam puxadinhos.
Dois anos depois, passei pela Vila Farrapos. E, surpresa!, quase todas as unidades tinham algum tipo de construção auxiliar, ou espaço para churrasqueira, tomar criarão debaixo de uma árvore por eles plantadas ou simplesmente por sementes de frutas jogadas ao léu, outra coisa bem de vila.
Vila e favela são sustentáveis, pelo menos na vegetação. E só olhar para o Morro da Embratel e o Morro da Cruz. Antes era tudo pelado.
Resumo da história: por mais humildes e pobres que sejam os moradores, todos eles tem um pouquinho de engenheiro e arquiteto no DNA.
Epílogo ma non tropo
O fotógrafo que me acompanhava, cujo nome declino porque era homem casado, apaixonou-se perdidamente pela dona Nelly, viúva fresquinha na casa dos 40 anos. Mas essa já é outra história.