Bares de hotéis
Até o início dos anos 1980, os bares de hotéis de Porto Alegre eram parte do charme do centro. O auge foi nos anos 1970, com o Plazinha, na rua Senhor dos Passos, o do Alfred Porto Alegre, com entrada na mesma rua, o Embaixador, na Jerônimo Coelho, o do Lido Hotel, na Andrade Neves, e o do City Hotel, na José Montaury. O Plaza São Rafael nunca chegou a ter um de verdade, com exceção dos primeiros anos – foi inaugurado em 1973 – um snackbar, logo na entrada à esquerda.
O falecido Everest também nunca emplacou o seu. Poderia ser no último andar, onde ficava o restaurante. Mas quem gosta de bar não queria olhar para fora, queria olhar para dentro, com suas conversas e namoros pudicos.
O melhor deles foi o do Plazinha, na rua Senhor dos Passos, sem janelas, a média luz, mesas protegidas com caldeiras de espaldar, belo sortimento de bebidas importadas e um barman especializado em coquetéis muito além do indefectível Martini. Ponto de honra foi ocupado pelo Tyffany’s, do Alfred Porto Alegre, também na Senhor dos Passos. A decoração imitava o famoso Harry’s Bar de Veneza, um luxo.
Certa noite, um bluezeiro, ex-motorista de caminhão que fez shows no Opinião irritou-se com um esquálido amador que tentava tocar boogie woogie no piano do bar. Com 1m90cm, deu um chega pra lá no atrevido e tocou, bem, tocou como poucas vezes eu vi. Sem gostar muito do americano, o barman me perguntou quem era o cara. Um motorista de caminhão, respondi, sabendo que explicar seria inútil.
– Logo vi – disse o barman, desdenhando do artista.
Foi no Plazinha que aconteceu o caso da mulher, que contou sua dolorosa história que começou quando salvou um garotão de morrer afogado em uma piscina, fazendo respiração boca-boca, justo quando chegou o marido e maldosamente pensou que se tratava de outro procedimento, o boca-boca puro e simples.
Uma injustiça queixou-se, não se pode mais fazer o bem que lá vem maldade. Levou horas contando a triste história. Atento, o homem que a acompanhava começou a olhar para os lados, depois embaixo das mesas vizinhas e da sua. Surpresa, ela interrompeu a história perguntando se algo estava errado.
– Sim. Estou procurando a pessoa para quem estás contando tua história. Para mim é que não estás.