Baco castiga
Se tem uma coisa que bebum gosta é dizer que um amigo está bebendo muito. E geralmente isso é dito quando o cara já está mais pra lá do que pra cá, e quase sempre atrás de um copo de uísque ou outra bebida qualquer. Autodefesa, claro. E cheio de grau.
– É para o bem dele – é a justificativa.
Há anos, quando o Centro de Porto Alegre fervilhava de bares, houve um caso famoso. Um advogado que pertencia à turma dos “Em pé”, bebedores que preferiam ficar de pé junto ao balcão em vez de beber sentados em mesa, costumava dar talagaços de mais de metro em um aperitivo à base de maracujá e cachaça. Empinava os copos, enxugava a boca com o dorso da mão e saía do bar – o Pelotense, no caso. Não sem antes parar na ruidosa Mesa Um. Dedo em riste, rogava a praga apontando as futuras vítimas com o indicador.
– Primeiro, vai o advogado. Depois, o juiz. Adiante, o gerente do banco, o jornalista, o pecuarista…
E assim determinava a morte de todos porque bebiam demais. Um dia, ele fez a cerimônia de apontar os colegas, deu boa-noite, saiu para a rua e, ao atravessá-la, caiu duro e cheio de mosca.
Foi o primeiro. Os outros estão vivos ou morreram de velhice.
« O fim da espontaneidade Diz-se de pessoas sem merecimento que se elogiam mutuamente e com exagero. »