Anotações de um dia nervoso

12 jul • NotasNenhum comentário em Anotações de um dia nervoso

A violência de ambos os lados já causa rachaduras na represa da tranquilidade. A última foi o assassinato de um lulista por um bolsonarista, condição que levou todos os jornais e redes de TV a explorar ao máximo as circunstâncias e já pautar as futuras, que nas redações se chama suíte.

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Na semana passada, um grupo comunista impediu um vereador bolsonarista a dar palestra na Unicamp, o que obviamente não teve grande destaque na mídia, se é que a teve. Garrafas com urina e pacotes de fezes voam dos dois lados e, se depender da raiva dos autores, podem abater um jato em altitude de cruzeiro.

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Cheiro de lança no ar

O que as pessoas sensatas estão avaliando é se teremos sequelas mais violentas antes ou depois das eleições. Eu apostaria que antes E depois. Para veteranos como eu, não precisa explodir garrafas e pacotes, sente-se no ar que os os dois lados descarregam eletricidade de alta voltagem.

É como véspera de temporal, aquela coisa de ar pesado. Digam o que disserem, repito que nunca – nos meus 54 anos de jornalismo e nos 62 de carteira assinada – vi a imprensa tão absorta em destacar um só lado da questão. E aí minha estranheza, ignorar solenemente o outro.

Vide o caso Lulinha e o vereador impedido de falar na Unicamp.

Por baixo do pano…

…muita mão na mão. Se alguém me dissesse que alguém fez um acordo com “alguéns” para dobrar ou triplicar o butim após as eleições que provavelmente já sabemos quem será, salvo milagre. O dinheiro move até consciências patrióticas.

Como dizia o grande Nelson Rodrigues, o dinheiro compra até amor sincero. E depois? Depois vão se queixar para o bispo, porque Inês estará morta.

A turba e o estouro da boiada

Eu tinha 11 anos em 1954, quando Getúlio Vargas se suicidou. Turbas encanecidas destruíram a Rádio Farroupilha, a Importadora Americana e tudo que lembrasse os Estados Unidos.

Por quê? Insuflados por demagogos inconsequentes e eternamente impunes, o mar de lama que cercava e no qual estava submergido o governo Vargas teria sido obra dos malditos americanos. O Brasil sempre sofreu de coitadismo em que todos seus males nunca eram culpa dele e, sim, dos outros.

Lembra outro partido atual que já foi governo. Fiquei sem entender nada, pensando como podia um suicídio ser orquestrado por terceiros. Pois é, o nacionalismo exacerbado tem disso.

A culpa é dos outros

A esquerda nunca soube fazer autocrítica. Desde a Revolução Bolchevique de 1917 até a queda do Muro de Berlim, os culpados por seus fracassos sempre foram eles. É a radiação de fundo de 1917. Quase uma doença. Quase não, pensando bem.

Enquanto isso, penso que estou novamente nos anos 1960. A Venezuela é uma ditadura fantasiada de democracia, que nem mesmo os passarinhos ventríloquos que falam como se fossem Hugo Cháves, como diz o presidente(!) Nicolás Maduro. A Argentina não tem mais crédito nem para comprar um par de cuecas.

Naufrágio latino, de novo

O Chile está à beira de uma nova Constituição que faria inveja à Constituição chamada de Polaca, no Brasil de Getúlio Vargas. Pior até, porque tem o tal controle social, um imenso guarda-sol do tamanho de um circo, expressão que Lula também usa quando fala sobre a mídia.

Inocentes como a turma da Lava-Jato, e bota aspas nisso, garantem que debaterão a fundo com a sociedade. Que é mais fácil de guiar que boiada alimentada com tranquilizantes.

Deus existe

Apareceu uma nova variante do coronavírus. Parte da mídia, inclusive a gauchesca, deu pulos de alegria. Nossa, que notícia boa em uma segunda feira.


Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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