Adeus, Ano Novo
À medida que vamos envelhecendo, os anos novos se parecem com os velhos. Para quem acredita em milagres, e que bom para eles, tudo de bom não só pode como vai acontecer nos próximos 365 dias.
Perdoem-me a crueza. Mas jornalistas veteranos sabem que o que vem pela frente pode não ser bom e talvez pior que o ano que finda.
Dar de cara com as injustiças de cada dia, ver a brutalidade das guerras, dos conflitos em que soldados são buchas de canhão envolvidos em papel celofane onde está escrito “patriotismo”, as doenças, a miséria, a dor. Desculpem, mas essa é a rotina.
O mundo seria bem melhor se as guerras fossem travadas só entre generais. Melhor ainda, com batalhas simuladas como em jogos eletrônicos.
Porém – e sempre tem um – no fundo, eu e outros cínicos, que décadas de jornalismo formaram, sempre temos a secreta esperança que, desta vez, a Humanidade poderá não ser tão ruim como das vezes anteriores. Sim, é tão difícil acertar na Mega da Virada jogando apenas cinco dezenas e não as seis regulamentares.
Teremos doenças antigas voltando e novas se revelando, teremos remédios antigos para novos males e remédios novos para doenças novas. Neste aspecto, registro minha admiração para a ciência médica, que nos assombra com novidades e técnicas que há dois ou três anos seriam considerados possíveis só em 20, 30 ou mais anos.
O mal maior está na cabeça das pessoas. Temos no bom o germe do ruim. É a velha dialética, não se escapa dela.
Em que engenharia cósmica nossa cabeça foi criada é um mistério que nem mesmo Ele explica. Desde os tempos em que a Humanidade vivia em cavernas, basicamente só mudaram as ferramentas.