A noite do Sereno
Morreu aos 88 anos, quase 89, o meu amigo Sereno Chaise. Nem preciso falar do político Sereno, os obituários contam sua trajetória. O Santinho – esse era seu apelido quando o conheci apostando carreira no Jockey Club de Porto Alegre, e também como dono do bar-chope Barcaça, ex-Brahms, na esquina da Cristóvão Colombo com a Garibandi, e depois do Barcacinha, uma quadra longa acima, antigo Styllo Bar – me chamava de Magrão quando nos encontrávamos. Desnecessário dizer por que.
Mas o causo aqui é outro. Antes de romper com Leonel Brizola, o falecido era um dos poucos que o doutor ouvia. Nem sempre acolhia suas sugestões, mas ouvia, o que já era muita coisa para quem o conheceu. Certo domingo, no início do ano de 1986, quando eu escrevia o Informe Especial da Zero Hora, fui jantar no Pedrini, na Venâncio Aires. Sentadito e solito em uma mesa grande, pedi o filé à parmegiana. Mal misturei o arroz com o molho, para dar a primeira garfada, quando entrou todo o alto comando do PDT, a maioria conhecidos ou amigos meus.
Como o bar estava quase cheio, pedi para o garçom juntar alguma mesas de modo que pudéssemos sentar mais ou menos juntos. Devidamente acomodados, perguntei ao jornalista Renato D’Arrigo, já falecido, o motivo daquela revoada de cardeais pedetistas.
– É que o chefe chega do Rio no corujão da Varig, então, estamos fazendo tempo parta recepcioná-lo no aeroporto – explicou.
E aduziu:
– Vamos propor ao Brizola um nome de consenso para concorrer ao Palácio Piratini.
Isso foi tipo 22h. Uma hora e pouco depois, saímos todos juntos, eles para o aeroporto e eu para meu humilde tugúrio. No dia seguinte, abro a Zero Hora e leio na coluna do J.C. Terlera que Brizola havia chegado cedo de manhã e se reunido secretamente com Sereno Chaise, encontro que definiu a candidatura Aldo Pinto.
O chefe deu o balão na tchurma do peito. Os sobreviventes daquela noite estão vermelhos até hoje.