A isca
No almoço de confraternização com a imprensa da Fecomércio, o prato principal da entidade presidida pelo seu Bohn foi esse belo salmão. Belo e bom, devo reconhecer, mas é forçoso dizer que salmão desse tamanho usávamos como isca no Arroio Forromeco, em São Vendelino (RS), encosta da Serra. Por um capricho da natureza, ovas desse peixe que gosta do frio eram trazidos por pássaros migratórios que vinham do Sul da Argentina. Já crescidinhos, esses peixes acabavam viciados pela água do arroio. E mediam mais de metro.
Pelo mesmo capricho da natureza alada, salmões argentinos – nada a ver com os que aqui se come, é outro departamento – ovas trazidas pelos mesmos pássaros migratórios povoaram a Sanga Grande do subdistrito do Guassu-Boi, interior de Alegrete. Infelizmente morreram, devorados que foram pelas traíras, peixe de carne branca muito deliciosa.
O seu Pacheco, que foi capataz da Estância do Marco, contou-me que, certa feita, foi pescar de espinhel na Sanga Grande. Em dado momento, tirou uma delas da água e ficou surpreso quando viu que ela tinha um dente de ouro colocado por um dentista. Penalizado, devolveu a traíra à água. Meses depois, seu Pacheco repetiu a operação e pegou uma traíra normal. Quando ele ia dar um planchaço de facão nela, a pobre gritou:
– Não me mate, meu senhor, não me mate porque eu sou a dentista da outra!