A falta que ele faz

15 ago • NotasNenhum comentário em A falta que ele faz

Essa enorme fila que ocupa dois terços do Largo Glênio Peres, em Porto Alegre, é formada por pessoas que se endividaram além da conta e estão no SPC. Por isso, o Serasa estaciona um caminhão cujos ocupantes fazem de tudo para zerar o contencioso dessa gente toda.

Como é sabido, o Rio Grande do Sul tem 3,5 milhões de inadimplentes. Isso apesar da operação Desenrolar do governo federal ter enxugado um pouco o gelo. Como é que se endividaram, tanto? Não se deram conta do perigo?

A irracionalidade como obrigação

Essa é a pergunta que tem várias respostas. A conhecida falta de educação financeira é uma A prodigalidade de alguns bancos e financeiras em liberar empréstimos, mesmo sabendo que é um risco.

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A queda da renda real é outro fator. Mas eu tenho insistido que há um ingrediente que os jornais e a mídia em geral não abordam ou não querem abordar: as metas dos gerentes de contas, o segundo escalão.

Efeito Comaneci

Parte dessas metas é simplesmente impossível de cumprir. As direções estabelecem o que eu chamo de Fator Nadia Comaneci, aquela ginasta que ganhou vários ouros nas Olimpíadas dos anos 1980 em várias modalidades.

Uma delas foi aquela coisa de ficar rodopiando no ar. Explico: perguntaram ao treinador qual era a meta de permanência no ar, quantos segundos. A resposta foi de impressionar.       

https://cnabrasil.org.br/senar

– A meta dela que eu estabeleci é ela permanecer no ar…

Dito assim parece loucura. Mas se fizermos uma pequena abstração tudo se encaixa. Os dois sabem que isso é impossível. Mas a ideia é exatamente forçar os limites até onde der e mais um pouco.

Esses executivos de segundo escalão de instituições financeiras recebem a ordem de vender em quantidades tão absurdas que ninguém em sã consciência acredita que elas possam ser cumpridas. Por isso, chega a ser desumano o que eles são obrigados a fazer.

Caso não atinjam tais metas, correm o risco de demissão. Um ou dois meses sem alcançar o objetivo colimado, e lá se vão eles para o olho da rua sem dó nem piedade. 

Por isso, praticamente empurram os produtos ao primeiro que aparecer. E quase todos procuram o que não têm: dinheiro. 

Com os juros “normais” já é difícil, imagina os nominais da Taxa Selic, que em juros reais cobrados pelo mercado são pelo menos oito ou nove vezes superiores a estes.

Muy amigo… muy amigo…

Observem bem a foto. Toda essa fila é formada por gente do bem, que foi encalacrada com dívidas. Muitas vezes, nem é deles. É dos filhos ou de parentes que pediriam aval e não pagaram

Ou familiares que o colocaram na ponta do empréstimo consignado. Neste a inadimplência é menos alta porque desconta direto na folha de pagamento.

Um filho ou filha botar pai ou mãe nessa furada é crueldade. Extensiva aos avós que emprestam seu nome tão zelosamente guardado.

A velha guarda gosta de pagar em dia. Eu mesmo conheci vários contemporâneos que foram sacaneados pelos netos ou familiares. Sem falar nos muy amigos. Mas aí já é dar chance ao azar.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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