A falida cidade grande
Quando o capataz ou proprietário de uma fazenda quer manejar a boiada diz que vai recorrer o campo, gíria gaúcha. Pois saindo do campo e indo para a cidade ou cidades vou recorrer uma boiada indigesta, que é a falência das grandes cidades.
Já falei aqui sobre um fórum mundial de cidades grandes nos anos 1990, no qual concluíram que nenhuma delas com mais de 700 mil habitantes é administrável. Mesmo com novas tecnologias que permitem conhecimento mais rápido dos problemas e, em tese, melhor resolução, o que se observa é o contrário. É cada vez maior e mais difícil.
Vejam esse caso de Recife. Deslizamentos mataram dezenas de pessoas, Vejam os casos e tragédias que se repetem ano após ano no Rio de Janeiro, em Teresópolis e no litoral paulista. E apesar do diagnóstico ser conhecido, residências em zona de alto rico pela extinção de árvores que seguram o solo, caso das que têm raízes radiais, especialmente, nada foi feito. Colocar essa pobre gente onde? Está tudo dominado e lotado.
Entrementes, miséria, construções clandestinas, ampliação de favelas sem esgoto tratado, às vezes, sem energia elétrica, escolas que professoras não querem trabalhar porque o tráfico domina e na falta dele o Crime S.A. fincou raízes. As prefeituras alardeiam seus grandes feitos, eventos gigantes, festas temáticas, cultuam os bairros brancos, ricos e finos, gente bonita jovem e alegre.
Nada contra, mas acho que o principal entrave é olhar só para as fantasias e menos para os calos nos pés, e incômodas espinhas ou úlceras que sangram. Estamos assistindo a falência das cidades grandes, piorada pela pandemia. Melhor dizendo, a pandemia mostrou a parte submersa do iceberg. Ele já estava lá, só não queriam ver.
O que deu errado?
Agora é a hora em que os jornais vão começar a perguntar para os meteorologistas o que está havendo com o tempo, porque a previsão era maio seco. Chove pra caramba no Nordeste, e aqui deveria ter pouca chuva com o La Niña. O que houve, a guria trocou de sexo?
Segunda marcha
Neste estágio da campanha eleitoral, que ainda não começou oficialmente e também não empolga, porque os dois rivais bem colocados nas pesquisas, Lula na frente. Terceira via, por enquanto, é como uma lanterna vista ao longe, dá uma luzinha, mas não se sabe se vai virar holofote e iluminar seu caminho e o dos outros.
Prova disso são as ruas bocejando. Nem decalco mais se vê nos carros, contrastando com eleições anteriores. De uns 10 dias para cá, é verdade, estamos vivendo uma polvadeira entre partidos e candidatos. É a única polvadeira em que aparece um peixe, sua majestade, a traíra.
Partidos e seus nomes mais famosos não visam o bem da sociedade, visam o poder e é esse o alvo colimado. Deixem o bem do povo para os vereadores. Naturalmente, que há exceções. Mas em matéria de poder e glória é como galinha e milho. Já viram alguma renegar o grão?
Nunca vou esquecer um político gaúcho chamado Wolfram Metzler, que se elegeu deputado federal. Eram os anos 1950, e em campanha ele foi visitar meu pai. Em vez das arengas infrutíferas de hoje, ¨”vou cuidar da segurança e educação”, Metzler abriu a conversa dizendo mais ou menos assim:
– Herr Josef, sabes muito bem que eu não preciso mais trabalhar para viver. Então me perguntei o que eu podia fazer para ajudar esse povo. Então resolvi ser deputado.
Foi eleito e reeleito. E fez muita coisa para o povo.
Tanto faz como fez
Nos anos 1930, Benito Mussolini, o presidente ou ditador da Itália, como queiram, gozava de grande prestígio nos Estados Unidos. Botou os trens no horário, drenou os pântanos de Roma e exportou a máfia para a Sicília.
Então foi entrevistado por uma famosa jornalista americana chamada Clara Booth Luce, que lhe perguntou se era difícil governar a Itália. Benito deu de ombros.
– Difícil não é. Mas é inútil.
Aqui no Hemisfério Sul, além de ser difícil, é inútil.