A década da falsificação

28 jun • A Vida como ela foiNenhum comentário em A década da falsificação

Bebia-se muito uísque nos anos 1970, no lar, no bar e no mar. Espumantes então chamados indevidamente de champanhe, só em bailes, ocasiões festivas. Havia poucas marcas disponíveis fora as importadas, como a preferida Veuve Cliquot, devidamente rebatizada da a viúva. Mas essa só para quem tinha muita bala na agulha. Vinhos da moda eram os alemães, do Reno e Mosela, garrafas  marrons e verde claro.

A marca preferida era a Liebfraumilch, que nem marca registrada era, um vinho comum de mesa relevado à condição de divindade. Vinhos melhores eram os da categoria “mit Predikat”. Depois veio um vinho “alemão” da Argélia, garrafa azul, o preferido dos otários. Os chilenos recém começaram a aparecer, muito bons. Vinhos nacionais bons, poucas marcas. Alguns metidos a besta davam azia até em bicarbonato.

Então voltamos ao uísque. Bebia-se muito mais que hoje, pois havia hábito de  beber ao meio-dia. Nos bares, chope, cerveja e uísque, muito. As  marcas nacionais mais conhecidas era o Old Eight, Scot’s bar (derretia laringes e faringes), Drury”s e Natu Nobilis. O pioneiro foi o Mansion House (!), nos nos 1960, logo chamado de Mãos ao Alto. Também eram produzidos “uísques” de gengibre e falsas ervas, eficazes derretedores de fígado.

Até os destilados nacionais podiam ser falsificados. Se fosse em boates e cabarés do terceiro time, 100%. A garrafa era autêntica, tiravam o fundo ou injetavam a falsidade com seringa de injeção na cápsula. Mas era trabalhoso. Estrangeiro, caríssimo na época, já valia a pena. Por cima, em torno de 80% era frio, dependendo do lugar onde se bebia.

Em certos bares era costume comprar a garrafa e deixá-la lá. Uma fita com o número de doses colada nela. Ao sair, o dono fazia uma marca com caneta para medir o bebido. Em locais mais pecaminosos, o garçom tinha que abrir em frente ao comprador. Facilitava e ele despejava a bebida no balde com gelo.

Nunca se bebeu tanto uísque frio como nos anos 70.

Imagem: Freepik

https://www.brde.com.br/?utm_source=fernandoalbrecht.blog.br&utm_medium=banner&utm_campaign=BRDE%2060%20Anos

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

FacebookTwitter

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

« »