O mistério do tenente Olmerindo
O sobrenome era Silva ou coisa assim. Ele volta à minha lembrança com bastante frequência. Alto, magro, na casa dos 70 anos, era visto com frequência na Rua da Praia, vestindo um capote preto que chegava aos sapatos. Estava sempre assobiando uma musiquinha indecifrável.
O que ficou gravado na minha memória foi o tenente Olmerindo dos anos 1960. No início da década, eu era bancário, na flor da idade. O tenente tinha conta no Banco da Província, e assinava sempre com a patente militar na frente. Certo dia, soube por colegas de outros bancos que ele também tinha conta nas agências. Não era muito dinheiro, mas sempre pingava algum.
Eram os tempos felizes do aeroclube, então eu passava voando para o interior nos finais de semana. Em Santa Cruz do Sul, vi o Olmerindo assobiando na rua e fiquei sabendo que ele também tinha conta corrente nas agências bancárias. Fiquei encafifado. Na volta, consultei colegas do banco em outras cidades do interior, e o tenente também lá operava. Em resumo, era cliente de boa parte das cidades.
Na época, só se abria cadastro para quem fizesse empréstimo, então sua profissão era um mistério. Nas ocasiões em que o abordei, nunca disse qual era seu ofício. Levei meses nessa busca, até que um dia se fez a luz.
O tenente Olmerindo era corretor de seguros. Quando recebia as comissões, abria conta no banco mais próximo.