Paulo Artur Godoy
Pois se foi meu amigo Paulo Artur Godoy, 78 anos, por aí. Complicações pelo diabetes. Não posso fugir do lugar comum. Quando morre um contemporâneo, morremos um pouco. Muito, corrigindo. Especialmente quando você chega aos 70 anos. As lembranças, fatos, lugares, bares e restaurantes, amigos comuns que se foram, risos, o tilintar dos copos em noites de boemia, bebidas que não existem mais, balcões e mesas de bares enegrecidos por décadas de eflúvios alcoólicos, de comida, e manchadas pelo passeio dos fantasmas passados que não conhecemos e outros que conhecíamos. Todos eles semivivos. Não fossem, não voariam por aí à procura de uma maneira de voltar à vida.
O Godoy. Viveu sua época no Rio de Janeiro como gerente da União de Seguros. Fez safáris na África com Sebastião Camargo, o Chinês, fundador da Camargo Correa. Na parede do restaurante Gambrinus, do Mercado Público de Porto Alegre, observa-se uma cabeça de animal empalhada, doação do Paulo Artur. Quando alguém dizia que era um impala, ele bufava.
– Impala coisa nenhuma! É uma gazela-de-Grant, ouviu bem? Não uma simples gazela, uma gazela-de-grant! – repetia, sublinhado “Grant” como se fosse a Madame Pompadour do Vale do Rift no leste africano. Fazia parte da famosa Mesa Um do Restaurante Dona Maria, na rua José Montaury, do Bar do City Hotel e outros que não existem mais. Isso dói.
Paulo Artur Godoy agora é um fantasma. Imagino que sobrevoando as mesas do Dona Maria e as bancas do Mercado Público, onde passava os dias nos últimos anos. Se eu passar pelos corredores e sentir alguém me puxar pelo braço terei certeza que é o Godoy.