Um bom lugar
Final dos anos 1980, Governo Sarney. Encontro na Rua da Praia um velho conhecido, especialista em descolar cargos bem remunerados do governo, qualquer governo. Eu falei cargos, não em trabalho. Dava nó em pingo d’água, a velha raposa. Papo vai, papo vem, pergunto se continuava pegando bons cargos. Sim, falou, fora nomeado chefe do escritório de um importante ministério, dos poderosos. Deu-se seu cartão.
Passadas algumas semanas resolvi visitá-lo. Fiquei surpreso. Uma salinha mais pobre que rato de igreja, só uma cadeira, telefone e sofá dos tempos da Revolução Farroupilha. No canto, cafeteira de terceira mão completava o quadro da dor. Olhei em volta. Ele me encarava sorridente.
– Pelo menos o salário é bom?
– Que nada, é uma bosta.
Continuava sorridente.
– Então qual é a tua?
– É que o ponto é bom.
Ficou mais sorridente ainda.