Teoria dos fractais
Havia um tema recorrente nas histórias de quadrinhos cujas imagens mostram castelos da Idade Média com seus guardas das madrugadas nas amuradas em que eles dizem “é meia-noite e por enquanto nada de novo”. Pois vivemos algo assim neste Brasil de hoje. O que acontece é o de sempre, nenhuma novidade do front. Bolsonaro cai mais ainda na aprovação, o Congresso fica em ritmo de rame-rame das reformas e assim por diante. Na prática, é a teoria dos Fractais.
DE OLHO NA ÁRVORE
Desde que a teoria apareceu, a melhor analogia ainda é com uma árvore, seu tronco especificamente. Você olha de perto e a casca está cheia de altos e baixos, parecendo que é obra malfeita da natureza. Imprecisa a tal ponto que dá a ideia de quem a começou não tinha projeto e nem sabia o que queria. Pois é precisamente o contrário.
ESQUEÇA O PERTO
Tomando certa distância, observa-se o contrário, o tronco é uma obra precisa e quem o criou sabia muito bem o que queria. Esquecidas as minúcias, o tronco de um vegetal é uma obra perfeita. E neste ponto que a história brasileira e a árvore deixam de ter algo em comum. O Brasil sim é coisa imperfeita e, ao longo da sua história, nunca soube onde queria chegar, salvo no tempo do Império, por incrível que pareça.
A MONTANHA RUSSA
Pois voamos sentados em uma, voando dentro de trilhos em altos e baixos que, ao fim e ao cabo, voltam ao ponto de partida. Perplexos, nos perguntamos o que deu errado na viagem. Quem deu errado fomos nós. Nunca soubemos escolher operadores que dessem tenência aos sucessivos governos pelo simples fato que nós, a famosa sociedade, também não a temos.
ENGOLIDORES DE RABOS
Viramos cobras que engolem o próprio rabo. E novamente perplexos, como se fosse um ciclo, perguntamo-nos porque diabos não damos certo. Ah, é culpa do povo. A revelação é dolorosa: NÓS, eu e você também somos o povo. Então cá estamos nós sem eira nem beira.
CINEMA DE TRIBO
Em conversa com amigos, na tarde de domingo, falamos sobre cinema brasileiro e sua incapacidade de se sustentar pelas próprias pernas, quando um deles falou que ”o cinema brasileiro não tem muito a dizer no momento”. Pode ser, mas é por causa de vício de origem. Não conseguimos realmente atrair grande público. É de tribo para tribo.
ESTÉTICA DA POBREZA
O cinema nacional teve seus momentos aqui e acolá, certo, mas ficou mais de olho na ideologia e nos dramas sociais. Veio o oposto, com as chanchadas dos anos 1950, mas que, pelo menos, enchiam as salas com suas comédias bobinhas mas que faziam rir. Então, vieram os anos 1960 e apareceu uma exceção, o cineasta Domingos de Oliveira, que nem brasileiro era, com Leila Diniz e Todas as Mulheres do Mundo, uma comédia urbana que fez enorme sucesso.
TRILHA PERDIDA
Quando parecia que tínhamos um, veio Glauber Rocha e sua estética da pobreza. Sucesso de crítica, mas nunca de público. Filmes cabeça a soldo de uma tal de revolução. Aliás, Domingos de Oliveira foi considerado maldito porque não entrou nessa onda. Com auxílio do Governo, sempre ele, criamos as pornochanchadas e chegamos a hoje sem sair do buraco em que nós mesmo nos enterramos. Nós que eu digo são eles.
HERANÇA NODESTINA
Os filmes que hoje revelam roteiristas talentosos – pois é desse ofício que falamos – vem do Nordeste. Ganhamos a atenção nacional com um filme sobre o nordeste, aliás, Lampião o Rei do Cangaço. Aí vem a ironia história: a região mais pobre do país é a que escapa da mediocridade.
EXCEÇÕES DA REGRA
Algumas séries e minisséries. A Globo produziu uma de primeira grandeza, Agosto. Mas isso foi no tempo em que bundas em rebolado e peitos com hectolitros de silicone não eram terreno fértil para o merchandising.