Os brimos
Um dia dos anos 1990, eu estava tomando cafezinho no balcão do Haiti com meu amigo Davi Berlim. O Haiti, tradicional cafeteria e lancheria da rua Otávio Rocha quase Dr. Flores, era local de coexistência pacífica entre comerciantes palestinos e judeus – Berlim era judeu. Lá pelas tantas entrou um sujeito calvo e bigodudo. Tirou a ficha no caixa e pediu um cafezinho pingado, com leite.
– Você é palestino, afirmou o Davi Berlim, que só o conhecia de vista.
– Sou mesmo. Mas tá tanto na cara?
Meu amigo piscou o olho.
– É porque você falou cafezinho “bingado”.
O careca coçou o cabelo que não tinha.
– É, mas sempre vejo você aqui no Haiti e, mesmo sem conversar, sei que és judeu.
Depois de um gole no bingado, arrematou:.
– É que um dia você falou “batrício”, brimo.