Os bailes do Edgar

25 set • A Vida como ela foiNenhum comentário em Os bailes do Edgar

Meu amigo Edgar Pozzer completou ontem 80 anos. Não faz muito, podia ser admirado no Bar Girassole, na Vieira de Castro, cantando músicas românticas italianas. Nos anos 1960, o Edgar fazia um sucesso tremendo como “crooner” do Conjunto Norberto Baldauf, mas também nas rádios e até na TV Piratini, hoje TVE. Naqueles verdes anos, os clubes sociais promoviam bailes pelo menos uma vez por mês, e o Baldauf era um dos mais requisitados.

pozzer com Baldauf - anuncio de jornal decada de 60Outra moda eram as reuniões-dançantes, meio termo entre baile a rigor e o dançar ao som de música mecânica ou um pequeno conjunto local, de preferência. Os discos normalmente eram de grandes orquestras nacionais e internacionais e, ora quem, gravações do Edgar Pozzer com o Norberto Baldauf. Confesso que ficava com ciúmes do boa pinta gringo.

O Edgar foi o cara que mais suspiros por minuto arrancava da mulherada. Era só ouvir as primeiras sílabas do Al Di La – Al di la; del bene piu prezioso, ci sei tu/Al di la; del sogno piu ambizioso, ci sei tu/Al di la; delle cose piu belle/Al di la; delle stelle, ci sei tu – que elas reviravam os olhinhos e punham o queixo nos dedos entrelaçados das mãos, cotovelos na mesa.

Nessa hora, não adiantava você ser bonitão, ter uma boa lábia ou mesmo ter o amor da lindeza à sua frente se não cantasse ou no mínimo tocasse violão – as mulheres se amarravam em quem soubesse tocá-lo. Não senhores, se o Edgar Pozzer aparecesse lá, num passe de mágica e levantasse um mísero dedinho, elas sairiam correndo e tirando as roupas no caminho.

Covardia. Bonito, italiano, cantando músicas românticas italianas, o must na época. Qual era nossa chance? Depois dos bailes em que ele cantava, o mulherio continuava em alfa, um estado “zem-vergonha” por assim dizer.

Não é à toa que “cantada” vem de cantar.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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