O sapato nosso de cada dia
Ao mexer nos meus sapatos, deparei-me com um modelo 1978 que já deve ter caminhado o equivalente a 500 mil quilômetros de um automóvel. Digamos que fosse como um Ford Landau, luxuoso, confortável. Comprei em São Paulo, no mesmo dia em que fiz outra aquisição, uma gravata Christian Dior com listras vermelha e preta. Também durou todo esse tempo, até o fim da moda de usar gravata. Minha mulher deu de mão nela e a transformou em um algum acessório. Não fui no enterro, recusei-me a participar desse ato terrorista.
Sapatos eram feitos para durar. O meu 1978 está quase como novo por fora: por dentro está como os seres humanos, cheio de idiossincrasias. Tenho pena de jogá-lo fora, o fiel companheiro que me suportou por tanto tempo – literalmente. Quanto à gravata, tenho um episódio para mostrar como ela atraía atenção. Ao sair do avião em um voo para o Rio de Janeiro, a comissária olhou para Christian Dior e falou.
– Como é bonita essa gravata!
Só no fim da escada me dei conta que ela podia estar me cantando. Jamais saberei porque não dava mais para voltar à cabine.
Eu e minha ficha que não cai.
« Pensamento do Dias Banrisul lança edital de seleção do Programa de Aceleração de Startups »