O porco do rio 

14 out • A Vida como ela foi1 comentário em O porco do rio 

 As enchentes cíclicas no interior gaúcho geravam causos e mais causos. Na modorra das pequenas comunidades, viravam até matéria-prima para festivais de mentira contadas nos salões de barbeiros, como eram chamadas as barbearias.

  Eu era gurizote e cortava o cabelo no salão do seu Pedro Vianna, em Montenegro. Quem pelava meu coco era o segundo em comando, como diziam os milicos. Não tinha como escapar: os pais mandavam cortar o cabelo tão rente que capava piolho deitado de bruços no couro cabeludo.

 Pois bem. Estava eu sentadinho e quietinho na cadeira quando entrou alguém contando as últimas da enchente do Rio Caí. Como era proibido virar a cabeça para não atrapalhar o ás do corte zero, não deu para ver a cara do dito cujo. Ele contou vários episódios que amigos traziam do interior do município. No final, veio essa:

   – Vocês sabem que a correnteza era tão forte que, na frente do Frigorífico Renner, eu vi uma laje de grés boiando, descendo o rio com um porco vivo montado nela!!!

  Neste momento a máquina de cortar cabelo cortou meu cocuruto. Nem o barbeiro aguentou.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

FacebookTwitter

One Response to O porco do rio 

  1. Cid Vanderlei Krahn disse:

    Não sei se é verdade, mas contam por aqui q teve gente q, nas enchentes do Rio Uruguai, “pescou” fogão a lenha, com fogo aceso ainda, e equipou uma oficina só com as ferramentas trazidas pelas enchentes……

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

« »