O guaraná incendiário
Esta história já teria se passado em uma dúzia de cidades do interior do RS nos anos 1960. Mas houve pelo menos um episódio que poderia ser registrado em cartório. Um montenegrino que bebia todas foi a um baile de kerb (festa do padroeiro da vila ou cidade nas colônias alemãs) e repetiu a dose. A folhas tantas, alguém deu a ele um pedaço de queijo parmesão tipo o RAR das Notas de hoje, escavou um buraco e encheu de pimenta das brabas. Para disfarçar, recolocaram o tampão. P., pegou o queijo dado e deu uma profunda mordida. Em pouco tempo, suava profusamente. Mas seguia comendo.
– É brabo, mas é queijo – repetia.
Quem não repetiu a dose foi uma figura popular da Porto Alegre dos anos 1960, que ficava na frente da falecida Padaria Matheus, na Rua da Praia, aberta dia e noite. Pão-duro de primeira, vivia mordendo os transeuntes. Pedia a eles que pagassem uma empada e um Guaraná Caçula.
Um dia, um dos maiores doadores do sujeito, que dizem ser o jornalista Carlos Bastos, combinou com o atendente de encher tanto a empada quanto o guaraná com a mais forte pimenta da casa. Dias depois o mordedor atacou o Bastos e pediu o de sempre. O resto vocês podem imaginar.
Deu uma mordida na empada que esguichou pimenta e na aflição que veio em seguida tomou um largo gole de pimenta quase pura. Nunca mais ele voltou a morder alguém que passasse na frente do Matheus.