O Corcel da zona
Anos 70. Viajei de trem húngaro (ó, que saudades que eu tenho) para Alegrete e me passei, dormi demais. Acabei em Urugaiana, ainda de madrugada, em pleno feriadão de Finados. E meu povo me esperando na estação férrea. E, agora, o que eu faço – numa cidade deserta – para avisar meu pessoal?
Paciência, vou de táxi pagando uma nota preta. Decisão tomada, procuro um táxi. E onde acho um? Depois de muito bater pernas, cheguei à conclusão que o único lugar do mundo onde sempre tem táxi é na zona. Resumindo o causo, achei um Corcel II caindo aos pedaços na direção um motorista com um bafo de tigre louco, cochilando, bem em frente a um cabaré ainda com bar aberto.
Acordei o cara, tarefa nada fácil, e perguntei quando ele cobraria para me levar a Alegrete, distante 150 km. Uma nota, mas não tinha outra saída e nem mesmo ônibus. Assim que o motora engatou a primeira, vi que ele pegaria no sono em poucos minutos.
– Cara, não vai dar certo. Volta para a zona e pega meia dúzia de cervejas. Eu pago. Quando sentires que vais pegar no sono bebe uma cega, certo?
Era tudo que ele queria ouvir. Quase que faltou cerveja – na época só tinha um posto e uma borracharia ao longo dos 150 km – mas fiz uma viagem tranquila.
O duro foi aguentar o bafo.