O camarão do Garcia
Há muito tempo, em uma galáxia distante, quando viajar de avião era um privilégio de ricos e jornalistas e a comida a bordo era de verdade, o jornalista João Garcia viajou pela Varig sentado na poltrona junto à saída de emergência.
Veio o almoço, um prato divino de camarões gigantes com legumes. Entre olhar para o prato e seu conteúdo chegar no estômago, o então gordo Garcia levou menos tempo que uma Ferrari para ir de 0 a 100. Chegou a aeromoça.
– Por favor, o senhor poderia sentar em outra poltrona?
– E posso saber o motivo? – perguntou Garcia, curioso.
A comissária ficou cheia de dedos.
– É que…bem, é que pelas normas de segurança da aeronave as pessoas… grandes como o senhor não podem sentar junto à saída de emergência.
Ela falou “grande” assim, graaaande. O gordo virou uma arara obesa. Abriu um bocão.
– Não podem, é? E estás me chamando de gooordo, que em caso de pane eu entupo a saída? E quer que eu fique sentado bem longe, para deixar todo mundo sair enquanto fico para morrer?
Foi na veia. Com medo de que os decibéis do Garcia danificassem a estrutura do Boeing 707. Tentou argumentar na boa. Garcia cruzou os braços.
– Daqui não saio, daqui ninguém me tira!
Depois de muita conversa em tom súplice, os tripulantes conseguiram que o passageiro rebelde ponderasse a questão.
– Já que vocês estão me pedindo com jeito, posso até mudar de lugar. Mas com uma condição!
O alto comissariado da Varig ficou esperançoso.
– Eu quero mais um prato de camarão gigante com verduras. Cheio, ouviram? Muitos camarões, muuuitos! Gigaaaantes!
A tripulação suspirou, aliviada. Claro que veio uma tonelada de camarão. Enquanto devorava os crustáceos, João Garcia engendrou um novo plano diabólico. Na viagem de volta, sentou de novo no assento junto à porta de emergência.