O Balaio Bocó
Era um sujeito de maus bofes que carregava seu balaio de vime tapado por uma toalha, onde escondia um recipiente pequeno de carvão em brasa para aquecer as salsichas e o pão d’água do cachorro quente ambulante. Balaio Bocó ficava de prontidão na saída do Clube Riograndense em noites de baile ou reunião-dançante. Faturava uma bela grana, porque o cão dele era ótimo, salsicha de boa qualidade e pão quentinho.
Na época não se botava nele aqueles atentados que gaúcho tanto gosta, ervilhas, milho, queijo ralado, batatinha palha, um molho gosmento e sabe Deus quantos outros ingredientes imorais, tudo afundado em um pão molenga. Era pão, salsicha e no máximo um molho básico, tomate e cebola, mais a mostarda a gosto.
Magrinho e baixinho, com um queijo pontudo como que se tivesse uma bomba de chimarrão entalada nele, Balaio obviamente atraía ironias e piadinhas de nosotros como o para raio atrai o próprio. Quando o bullying atingiu a temperatura máxima – éramos malvados, então – Balaio Bocó levanta sua voz fininha e exasperado se punha atrás do autor para desferir um pontapé na falésia sul do piadista. E aí ouvia-se o canto de guerra da indiada assistente.
– Balaio Bocó, Balaio Bocó!
A ponto de explodir, ele gritava de volta seu impropério permanente.
– Vai cuidar da guampa da tua mãe, seu fiadaputa!