O baixinho
No tempo em que se podia caminhar livremente pela Rua da Praia e na Praça da Alfândega, mesmo de madrugada, amigos em duplas ou em grupo tinham conversas animadas fazendo uma espécie de academia noturna. Caminhava-se, conversando. Pois foi o caso do Zeca, que convidou um amigo, sempre taciturno, para bater um papo. Não sem antes passar num bar para molhar as ideias.
O amigo do Zeca era baixinho. Baixinho mesmo. E esse era o grande drama da sua vida.
– Zequinha, pra ti eu posso me abrir. Tu não sabes como eu sofro por ser baixinho. Desde que a minha verticalidade foi comprovada, a partir dos 21 anos, sofri o diabo. Eu era chamado de pintor de rodapé; que só servia para tirar penico debaixo da cama, e por aí afora. O pior, Zequinha, é que esse meu mal não tem cura.
O Zequinha ficou ouvindo o desabafo do seu amigo, meneando a cabeça conforme o relato se sucedia. Ao final, parou e botou a mão no ombro do amigo.
– Sei não se não tem cura. Já experimentaste aguar os pés?