Ida a Parati
Era um dia como qualquer outro. Estávamos estacionados em um lugar qualquer para dormir, o Camping da família Klink é longe e, pelo que disseram, a estrada estava alagada. Com o Motor Home é assim; você para e, na manhã seguinte, se dá conta que tudo em volta mudou, mas dentro, tudo continua como antes. Faz-se milhares de quilômetros mas a cama é a mesma, o chuveiro igual e o café da manhã com as mesmas coisinhas de que se gosta.
A pequena mesa está posta, ficamos sentados enquanto a cafeteira Bialetti passava o café, sempre igual; a cortina já foi aberta, mas ainda não sei bem onde paramos. Quando se chega no escuro é assim.
Começo a ouvir novamente os pingos de chuva e assumo o meu erro; eu sempre soube que, no verão, na costa entre Rio e São Paulo, chove muito todos os anos, e pelo que eu sempre leio, o governo não faz nada. O dinheiro desaparece e pontes, pontilhões não são refeitos (me diz o Amyr Klink, em quem eu acredito). As encostas continuam despencando e levando casas e carros, mas tudo fica igual quando a chuva parar e o sol aparecer.
Acordar em um lugar nunca antes visitado é sempre um pouco estranho. O corpo demora para entender. São 7h, do lado de fora faz 20 graus, e diz o radinho que a chuva continuará. E no noticiário ouço: “Votar o aborto, só por cima do meu cadáver”, declara um evangélico. Uma feminista sugere torná-lo cadáver, passar por cima do corpo e votar.
A ideia me é simpática, mas não vamos levar política a sério. Coloco a mesma bermuda e a mesma camisa, e o mesmo “croc” que escorrega muito nas pedras que calçam as ruas, as chamadas aqui “cabeça de afro-descendente”.
Vamos para a rua do comércio ainda vazia. Com chuva, os turistas ainda dormem. A água cobre as ruas. Atravessamos com água nas canelas, sem nos dar conta que não há esgoto…. Que ideia de jerico, que turismo idiota, estou furioso comigo mesmo.
Já às 9h, liguei para o nosso homem do tempo, o Marcos Abreu, arriscando a ouvir uns desaforos, pois para ele ainda é madrugada, mas, em poucos minutos, ele colocou o Weather Channel na telinha e foi enfático: “Afastem-se 250 quilômetros daí, “no way” para qualquer lado.”
Bem, qualquer lado não é bem assim, de um lado está o Oceano Atlântico e o Rocinante não chegaria na África. Do outro lado, a Serra do Mar, a péssima Estrada Real e a não menos ruim BR-101 naquele trecho. Eu só saberia disso depois.
E lá fomos nós para as cidades históricas de Minas. Um roteiro esdrúxulo, sem dúvida, mas possível a quem anda com a casa nas costas. Isso foi no ano retrasado e é certo que não repetirei nunca mais. Felizmente a fronteira da nuestra América é próxima para nós do Sul. Ninguém que eu saiba por lá, teve a esdrúxula ideia de fechar os pedágios. Você lembra quem foi? “Eu lembro dos discursos, os pedágios eram um entrave ao desenvolvimento do RS”, pois os nossos vizinhos…. mesmo os mais pobres, têm melhores estradas e um combustível melhor e mais econômico.