Diário da peste

27 mar • Caso do Dia, NotasNenhum comentário em Diário da peste

QUANDO Martha Suplicy tinha um programa de televisão, lascou uma frase memorável: relaxe e goze. O contexto era outro, mas é uma frase muito especial para os dias que vivemos. Nada de cobrir a cabeça com cinzas e se flagelar com um cinto cheio de tachinhas. Não teremos o Armagedon por causa desse bichinho malvado, então cometa os pecados que quiser. Pelo menos pecados da cama.

O RISO também não é proibido. Mesmo isolado em casa e tendo que encarar a perpétua 24 horas por dia, não fique de cara amarrada. Até porque ela tem que aguentar a sua também 24 horas por dia.

OLHE o lado positivo da bronca. Você não precisa aguentar a cara do chefe e nem ouvir as piadas centenárias do colega chato, piadinhas sem graça já contadas pelo Noé quando a água baixou.

VEJA meu caso. Nunca consegui tirar férias, exceto quando fiz cirurgia para tirar um tumor do reto. Para atualizar minha ficha corrida, os checkups estão me dando o prazer de saber que estou zero bala, para desgosto dos meus inimigos. Tirei o reto da reta, por assim.

AGORA estou em férias da redação. Escrevo de casa pelo celular, porque o tablet foi invadido pelo coronavírus. Os sintomas são o corretor do Android se meter de pato a ganso e as teclas ficam sonolentas. Chamam isso delay. Escrevo delay e olha o que saiu: departamento.

COM o isolamento meu saldo bancário melhorou muito. Não almoço mais na rua, nem gasto com lanches e contas de ocasião. E a comida de casa é bem mais barata. Eu sou um consumista, sabe?

ENTÃO tenho mais alegrias que tristezas com o dragãozinho chinês, desde que ele não me leia e diga “Ah é, é?”

HÁ outras vantagens advindas do bichinho.  O pagamento dos impostos federais deve ser prorrogado – eu sou PJ – e com isso ganho um bocado se tempo. E tudo isso graças a você, meu pet invisível. Só não te boto na coleira para passear porque o governo não deixa. E se eu conseguisse botar a coleira…

PARA quem me rogou uma praga, posso dizer que fiz um acordo com ele: eu pego leve e você não pega pesado comigo. Aliás, já pegou. Há três semanas você me presenteou com vírus e, tossezinha de nada e alguns espirros, quadro que durou uma semana. Só pode ter sido você, ou tem um coronavírus do B na praça?

COM os novos tempos, veremos mudanças estéticas notáveis nos homens. Parte que tinha barba vai raspá-la para não servir de alojamento de vírus.E, sem barbearia, haverá uma explosão de cabeludos.

600x90 SABEMOS que é muito difícil criar e eliminar matéria. Não vale totalmente para o jornalismo. Criam tantas matérias abomináveis que é difícil destruí-las.

COMO diz o médico e pecuarista Jorge Crispim, para acertar no carrapato estão matando a vaca.

PELA primeira vez em cinco dias, como um sanduba de manteiga, geleia e café com leite. Meu sonho de consumo é uma à la minuta  com bife de filé e 2 ovos, com as bordas crepitadas. Um carreteiro de filé com feijão mexido e cebola picada seria uma boa ideia.

ALIÁS, na H1N1, inventaram o Tamiflu. Está na hora de aparecer o Tamiflu do coronavírus.

PENSAMENTO DO DIAS

Em tempos de isolamento, felizes são os solteiros.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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