Contos do além
Um trompetista americano morreu e se foi à recepção do Céu. Estava com seu trompete. Um anjo atendente bochechudo cor de romã conferiu seu cadastro.
– Pode entrar, mas sem o trompete
– Como assim? Quero tocar jazz no Céu.
– Não grita, querido. Você fica feio desse jeito….
– Ah é? Chama o chefe.
O anjo revirou os olhos. Ligou para São Pedro.
– Tio, um gringo charmoso quer entrar de trompete.
São Pedro veio de skate.
– Música aqui só dos anjinhos com harpinhas. Não entra.
O anjo-atendente estava com os cotovelos na mesa segurando o rosto angelical, olhando embevecido para o trompetista.
– Ai como era grande… – falou.
São Pedro apontou o elevador.
– Aqui não, mas o inferno aceita. Te manda.
Ofendido, o trompetista com seu instrumento embaixo do braço entrou no elevador, que desceu, desceu por um tempão. Subitamente, a porta abriu e ele viu uma enorme suruba em andamento. Era homem com homem, mulher com mulher, três mulheres e um homem, três homens com uma mulher, um bacanal daqueles. Chamou no que estava mais perto, um rapaz de batom e Maria Chiquinha.
– Aqui é o inferno?
– Não, é mais embaixo. Aqui é Las Vegas.